Ex-secretário municipal de Saúde de Curitiba, na gestão do prefeito Gustavo Fruet, o médico sanitarista Adriano Massuda se tornou referência internacional na especialidade. Com doutorado em Harvard e professor na Fundação Getúlio Vargas, ele foi contundente na entrevista que deu ao jornal espanhol El País ao afirmar que as dificuldades enfrentadas pelo Brasil no combate à pandemia de coronavírus se deve ao desmanche das estruturas do ministério da Saúde no governo Bolsonaro, principalmente a partir da saída do ministro Luiz Henrique Mandetta. “Nem o pior ministro da Saúde fez o que Exército está fazendo”, ressaltou.
Para Massuda, a tradição de saúde pública que o Brasil construiu ao longo dos últimos 30 anos está sendo ameaçada com a profusão de militares e profissionais sem experiência instalados em cargos-chave na atual configuração do Ministério da Saúde. O pior, segundo ele, é que as mudanças nas engrenagens do sistema podem fazer um “estrago” muito além da pandemia.
“O Exército está ocupando cargos técnicos quando o Brasil tem profissionais extremamente competentes na área da saúde coletiva brasileira. Poucos países têm a inteligência que nós temos neste setor. Essa inteligência não está no Exército”, diz Massuda, emendando com perguntas: “como é que vai ficar a coordenação nacional do câncer? Como é que vai ficar a política nacional do HIV, do sangue e hemoderivados, e as vacinas que dependem da ação do Ministério da Saúde? É algo muito arriscado e a sociedade tem que ficar bastante atenta. O problema não é só a covid-19.”
Os militares tem competência em muitas áreas, mas não tem experiência na gestão do sistema de saúde brasileiro, que é muito complexo. Se eles conhecessem, não fariam as modificações em áreas extremamente sensíveis como estão fazendo.
Na entrevista ao El País, Adriano Massuda destaca que o Brasil teve muito tempo para se preparar para chegada da pandemia, que só ocorreu três meses após o alarme disparado na China. No entanto, o país demorou muito a reagir e a situação só não é pior atualmente “porque temos do SUS”, mas desperdiçou a expediência de resposta que acumulou em epidemias anteriores, razoavelmente bem sucedidas. “Se a gente tivesse utilizando adequadamente essa estrutura que o Brasil dispõe, talvez não precisaríamos de um isolamento tão radical por tanto tempo.”
O volume de ocupação de cargos técnicos por militares e por indicações políticas sem qualificação necessária na estrutura do Ministério da Saúde tem ocorrido como nunca antes desde que o SUS foi criado.
Nem o pior ministro da Saúde fez o que está acontecendo agora. Há áreas técnicas do Ministério da Saúde, fundamentais a manutenção de programas de saúde, que já passaram por diferentes governos, de diferentes bandeiras políticas, e nunca foram modificadas, devido ao saber acumulado.
Pode haver um processo de desmonte da engrenagem que fez o sistema de saúde funcionar nos últimos 30 anos que é muito perigoso. O Exército pode estar puxando pro seu colo a responsabilidade de desmontar o sistema de saúde brasileiro. Esse sistema que é essencial para garantir a segurança sanitária do nosso país.
O ex secretário Adriano Massuda sabe, e muito bem o que está falando. Sua gestão foi um marcada pela eficiência e seriedade no trato da coisa pública. Inclusive anotem o nome dele pois, se queremos oxigenar a administração da saúde pública no país, posso afirmar que estamos diante de um futuro ministro da saúde!