O Contraponto teve acesso a uma carta psicografada de santo Egídio, o protetor dos mendigos, dirigida ao prefeito Rafael Greca. Ei-la:
Meu muito estimado beato: sei que os desafortunados – aqueles que a população chama de mendigos – têm ocupado seu precioso tempo. Eles têm causado dissabores na sua recente jornada de governante de uma cidade importante. E isso antes mesmo de você assumir o cargo. Durante a eleição, a menção infeliz a um desafortunado (mendigo) quase lhe custou a carreira. Você se redimiu e passou a buscá-los deseperadamente para abraçá-los, transmitir-lhes palavras de carinho e conforto. Até beijar a mão de uma desafortunada você beijou. Ficou muito bonita a imagem na televisão.
Desde a sua posse alguns detratores insinuaram que você estava escondendo os desafortunados (mendigos) que insistem em ocupar cada vez mais espaços nobres na sua tão bela cidade. Você foi acusado de higienista. Eu sei que você é um católico praticante fervoroso e jamais seria capaz de uma monstruosidade dessas, ainda que muita gente bem-nascida goste. Ou se sinta incomodada em ver aquelas criaturas andrajosas dormindo sob as marquises.
Agora que as temperaturas caíram, vem mais um desafortunado (mendigo) e resolve morrer de hipotermia para lhe incomodar. Sei que o assunto é espinhoso. E ajudar os desafortunados nem sempre dá votos. Mas conto com seu histórico de cristão praticante para se manter firme no propósito de mitigar as dores dos que nada ou quase nada têm. Certo de seu empenho, despeço-me com um afetuoso abraço.
Santo Egídio.
PS. Não que eu ache que seja o seu caso, mas além de santo dos desafortunados eu também sou o protetor contra o medo e a loucura.
*Egídio era Grego, nascido em Atenas por volta do ano 650. Filho de família cristã, rica e nobre, tornou-se eremita depois que seus pais faleceram. Seu objetivo passou a ser o de viver na pobreza e dedicar-se totalmente a Deus. Por isso, distribuiu todos os seus bens entre os pobres e os doentes e passou a viver afastado da cidade, em grutas e cavernas, dedicando-se à oração, aos jejuns e sacrifícios. Em vida, ele recebeu os dons da sabedoria, da cura e dos milagres.