Um do últimos remanescentes de sua geração literária, o escritor curitibano Dalton Trevisan completa 95 anos neste domingo (14). Com mais de 40 livros lançados, diversos prêmios conquistados e textos traduzidos para diversos idiomas em mais de dez países, ele se consolidou ao longo de mais de meio século como um dos maiores contistas da literatura brasileira.
Dono de uma carreira exemplar e um dos autores mais reclusos do Brasil, Trevisan evita entrevistas e aparições públicas, à moda de outros escritores, como Raduan Nassar e Thomas Pynchon.
Vencedor do prêmio Camões em 2012 pelo conjunto de sua obra, entre suas principais honrarias, estão quatro prêmios Jabuti (1960, 1965, 1995 e 2011), dois prêmios da Biblioteca Nacional (2008,2015), um da APCA (1976), um Portugal Telecom (2003) e um Machado de Assis (2012).
Embora o autor tenha mantido o alto nível de sua escrita ao longo de toda a trajetória literária, seus livros mais celebrados permanecem sendo alguns dentre os primeiros de sua carreira, ambos reuniões de narrativas breves: Novelas Nada Exemplares (1959), Cemitério de Elefantes (1964) e O Vampiro de Curitiba (1965). Aqueles dois, conquistaram o Jabuti de contos; este, no entanto, permanece como o seu mais conhecido.
O escritor não era um novato na cena literária quando publicou Novelas Nada Exemplares (que foi premiado ao lado de nomes como Antonio Candido, Ricardo Ramos e Menotti Del Picchia na segunda edição do Jabuti).
Em 1946, Trevisan fundou a revista Joaquim, que editaria até 1948, granjeando a colaboração de grandes autores como Carlos Drummond de Andrade, Mario de Andrade e Vinícius de Moraes, além de pintores como Di Cavalcanti e Portinari, e críticos como Otto Maria Carpeaux (que, posteriormente, viria a se tornar um desafeto de Trevisan por conta de um artigo de Temístocles Linhares na revista).
Embora seja tido como sua estreia, Novelas Nada Exemplares não foi o primeiro livro de Trevisan. Antes de publicá-lo, ele já havia lançado o romance Sonata ao Luar (1945) e a coletânea de contos Sete Anos de Pastor (1948), posteriormente renegados por ele e jamais reeditados. Alguns trechos de Sonata ao Luar foram publicados na Joaquim, e Sete Anos de Pastor podia ser adquirido por meio de vendas diretas à época, como autores independentes costumam fazer hoje em dia, em tempos de internet.
O cuidado de Trevisan com a ourivesaria da palavra é uma de suas principais características. Não são raros os seus contos que acabam mudando ao longo dos anos em diferentes edições, demonstrando como ele se debruça sobre um texto já publicado para polir suas arestas.
Não apenas frases completas acabam sendo suprimidas ou transformadas, mas a própria ordem dos contos e até mesmo seus títulos em alguns de seus livros foram mudados de uma edição para a seguinte. Em uma raríssima entrevista concedida em 1968 ao Diário do Paraná, o autor disse que leva “a vida inteira” para escrever um conto, e que nunca para de reescrevê-lo. Pois já são 95 anos dedicados a cada um de seus contos, e contando.
Texto de Andre Cáceres, de O Estado de S. Paulo.