Crítico do governo, líder dos caminhoneiros em 2018 é hoje dono de lanchonete em Curitiba

O caminhoneiro paranaense Wanderley Alves, o Dedeco, que ficou famoso como líder da paralisação da categoria em 2018, está em outra. Hoje ele tem uma lanchonete em Curitiba. A pandemia provocou queda no movimento e no preço do frete. Resultado: ele teve de devolver seus três caminhões ao credor e mudou de ramo, após 27 anos de estrada. Ao mesmo tempo, está rompido com o governo. É o que conta a jornalista Thais Carrança , da BBC News Brasil em São Paulo em texto reproduzido em jornais, revistas e blogs. A seguir, alguns trechos da entrevista.

Dedeco ficou muito desgostoso com o aparelhamento dos caminhoneiros pelo governo Bolsonaro depois da greve de 2028. É por causa desse aparelhamento que o atual dono de lanchonete não acredita na greve dos caminhoneiros marcada para 1º de fevereiro. Para Dedeco, a categoria continua “muito apaixonada” por Bolsonaro, principalmente os que trabalham como empregados, pois não pagam o caminhão, não pagam pneus, não pagam óleo diesel. “Para mim, são doidos igual ele”.

O ex-caminhoneiro vai mais longe e diz que o atual governo é o pior que o Brasil já teve em toda sua história. “O Bolsonaro é incompetente. Ele sempre foi”, afirma. “Como deputado, ele sempre foi baixo clero e o povo não conhecia. O que lançaram nas redes sociais não foi o Bolsonaro, foi um personagem. O Bolsonaro de verdade está sendo apresentado agora. Não vale nada e nunca prestou”, afirma.

Tudo planejado – Sobre a greve de 2018, que paralisou o País, Dedeco conta que ela foi planejada e bem trabalhada, no sigilo, nos bastidores, levando seis meses para acontecer. “Além disso, ela teve apoio da população quase em geral e do setor rural. Isso não tem mais, porque o setor rural hoje está todo do lado do governo. Ruralista rico gosta de governo ruim porque governo ruim faz o dólar subir e quem vende em dólar se dá bem. Então o agronegócio gosta do Bolsonaro, porque aí eles vendem a soja deles a R$ 5, R$ 6 o dólar”, registra.

Dedeco rompeu com o governo. Segundo ele, porque o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, teria dito que o motorista estaria fazendo “showzinho” ao falar com a imprensa sobre sua pneumonia em abril passado e após Dedeco criticar publicamente a condução da gestão Bolsonaro com relação à pandemia. Dedeco teve pneumonia.

“Me desliguei dele [Tarcísio de Freitas] também por causa daquela manifestação que foi feita pró-reforma da Previdência [em 2019]. Aquela manifestação foi combinada dentro do gabinete do ministro, com os empresários”, acusa Dedeco. “Eu acabei indo e meu nome foi usado. Eu era totalmente contra a reforma, porque ela não serviu para nada, só para prejudicar os aposentados.”

Aliás, Dedeco faz questão de dizer que em 2018 não votou em Bolsonaro, mas sim em Alvaro Dias. Ele próprio foi candidato a deputado federal pelo Podemos.

Sem mudanças – De acordo com Dedeco, pouco melhorou para a categoria desde a greve de 2018.”Não mudou nada; Veja o preço do óleo diesel hoje, chega a estar R$ 4,40, R$ 4,50. Na época que nós fizemos paralisação, nós paramos porque o diesel estava R$ 3,30. O caminhoneiro, lá em 2015, no governo Dilma, parou porque o diesel estava R$ 2,80. Hoje, o diesel já está quase R$ 5 em alguns lugares. E o caminhoneiro está lambendo esse governo.”

Segundo ele, a categoria é influenciada por algumas lideranças que têm se beneficiado de subsídios governamentais para cooperativas de caminhões. “Esses caras se renderam ao governo em troca de subsídios para as cooperativas que eles abriram de 2018 para cá”, diz o ex-líder caminhoneiro.

 

 

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui