Cracolândia curitibana

Jornalista Estelita Hass, correspondente da Folha de São Paulo, desvenda um mundo novo na capital, do qual poucos se deram conta – o mundo da cracolândia curitibana, que saiu do centro e toma conta das periferias. Leia a reportagem de Estelita publicada na edição de hoje da FSP:

 

O terreno fica a poucos metros de uma escola municipal de Curitiba. Na rua ao lado, crianças carregam mochilas e seguem para casa. Não são nem cinco da tarde quando, acima do mato alto, brota um pequeno rastro de fumaça: um cachimbo de crack acabou de ser aceso.

A capital paranaense não tem uma cracolândia São Paulo. Mas nos últimos anos, com a revitalização e o policiamento intensivo de áreas centrais, usuários passaram do centro à periferia.

“Aqui é dia e noite, mas eu fumo escondido porque não quero dar exemplo pra ninguém”, diz, em meio ao matagal, Rogério Soares dos Santos, 46, que foi segurança de shopping e é usuário de crack há dez anos. Ao seu lado, barracas de lona abrigam outros usuários, num terreno junto a um centro de assistência social, no bairro do Parolin.

Fora do centro, a droga é mais barata (R$ 5 a pedra, contra R$ 10 no centro), há menos policiamento e fica-se mais à vontade para fumar, segundo o relato de usuários ouvidos pela Folha.

“No centro [a pedra] é matadinha, aqui é gigantona”, diz Ricardo (alguns nomes foram alterados, a pedido dos entrevistados), que veste moletom, boné e uma tornozeleira eletrônica sobre o pé. “E tem mais concorrência”, afirma, sobre os traficantes locais.

Os usuários se reúnem em frente a casas abandonadas, em terrenos com mato alto ou mesmo em pequenas tendas de lona. Formam pequenos grupos, usam a droga e, depois, migram para outro ponto de consumo. “É igual morcego: vão embora e depois voltam”, diz Márcia, 51, usuária de crack há oito anos.

Moradores se queixam da falta de policiamento. “Lá no centro tem câmera, tem gente em cima. Aqui, não”, comenta o líder comunitário Edson do Parolin, suplente de vereador pelo PSDB, que diz que o movimento aumentou nos últimos meses.

À frente da prefeitura desde janeiro, o prefeito Rafael Greca (PMN) promoveu uma ação recente para combater a criação de cracolândias no centro. Chamada de Operação Saturno, a ação criou anéis de proteção na área central, que orientam o policiamento da Guarda Municipal.

“Não vamos deixar que essa região vire uma cracolândia. Nosso centro histórico é magnífico e vamos devolvê-lo aos curitibanos”, disse Greca, na ocasião. Meses antes, a gestão começou a lavar os calçadões do centro. A área vem ganhando câmeras de segurança e mais iluminação ao longo das últimas gestões.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui