A comunicação nos tempos dos rádios a pilha

Já contei o “causo” do “Compadre Olegário” e o desastrado passeio em Palmeira (se você perdeu, pode ler em
http://www.etudoacabouemsfiha.com.br/2017/02/o-compadre-olegario-e-visita-palmeira.html).

Foram quase 10 anos de convivência com uma gente maravilhosa, um período que acrescentou muito à minha vida e me marcou para sempre. Lembrar aquela época me emociona e aquece o coração.

Os fatos que vou narrar, em sua maioria fazem parte das minhas memórias, mas também aparecerão histórias ouvidas naquela época. A de hoje é bem representativa da ingenuidade e do humor do povo da região.

Ponta Grossa tinha uma infinidade de propriedades rurais espalhadas por toda a extensão do município. Algumas eram fazendas de grande produção rural, outras eram sítios e chácaras menores, mas no geral não se via área de terra que não estivesse ocupada por criação de gado, plantio de cereais, frutas ou hortas.

Eram tempos sem celular e a comunicação entre as pessoas da área rural era feita de uma forma muito criativa e que, aliás, era usada em todo o país: as emissoras de rádio reservavam espaço na programação para a transmissão de recados. Ainda não havia FM, mas as rádios em AM tinham bom alcance.

É bom lembrar que não havia energia elétrica na maioria desses lugares. Os rádios funcionavam com baterias de automóveis, que de tempos em tempos eram levadas para ser carregadas na cidade. Os “mais avançados” dispunham de pequenos geradores eólicos, os “cataventos” que permitiam o uso contínuo. Depois surgiram os aparelhos a pilha e só mais tarde os habitantes das áreas rurais tiveram as propriedades eletrificadas,

A cidade de Ponta Grossa era um entrocamento ferroviário importante e um comércio forte, e assim as pessoas que viviam nos lugares mais afastados ou nos municípios vizinhos ia à cidade para compras, atendimento de saúde, etc.

Os sábados eram os dias de maior movimento, e era quando as pessoas aproveitavam para ir nas “estações de rádio” para deixar suas mensagens para serem transmitidas nos horários disponíveis para isso.

A natureza dos recados era a mais variada: ia da manifestação da saudade de namorados e familiares distantes, felicitações de aniversário, passando pelo anúncio de viagens, convites para festas, compra e venda de animais, etc. Não era incomum também a cobrança de dívidas de credores recalcitrantes. Claro que era um campo fértil para recados muito engraçados e relatos de situações que beiravam o tragicômico. Alguns exemplos:

– “Atenção capataz Lindolfo da fazenda Forquilhinha: o seu Pedro e o seu Roberto avisam que conforme o combinado na próxima segunda-feira estarão aí para marcar o gado”.

– “Antônio Ribeiro de Uvaia avisa o compadre Inácio na fazenda Morada Nova que o capado já engordou e segue no trem de quinta-feira”.

– “Atenção, atenção, Francisco que reside na fazenda Arvoredo, o Gabriel avisa que o seu Acácio já foi medicado e está se recuperando. Parece que desta vez ele escapa”.

– “Dona Gertrudes do Guaragi manda avisar sua irmã Raimunda que o batizado do nenê da Teresa vai ser no outro domingo e se ela trouxer as galinhas tem onde posar”.

Agora a melhor de todas, que me foi contada como verdadeira e que teria sido transmitida pela Rádio Clube Pontagrossense:

– “Ernesto Rodrigues de Itaiacoca avisa seu primo Juvenal na fazenda Capão Bonito que sua mãe morreu. No mais tudo bem”.

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