Carta do psicanalista a… você sabe quem!

Prezado “você sabe quem!”

Provavelmente você nunca ouviu falar de mim. Sou (fui) psicanalista. Nasci e estudei em Viena, sou da escola de Sigmund Freud. Em 1925 fiz um estudo que identificou um comportamento que 50 anos depois seria reconhecido como doença. É o Transtorno de Personalidade Narcisista. Hoje faz parte do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-V-TR. Essa doença tem algumas características marcantes. A saber:

1) Necessidade constante de admiração pelos outros;

2) Fixação por fantasias de poder;

3) Auto-percepção de ser único e superior;

4) Senso de direito a tratamento especial e à obediência de outros;

5) Exploração de outros para obter ganho pessoal;

6) Falta de interesse em simpatizar com os sentimentos, desejos ou necessidades dos outros;

7) Atitude pomposa e arrogante.

Resumindo: o narcisista se considera sempre superior. Ele só aprova outras pessoas quando essas giram em torno de sua órbita. Esses são bajuladores que acabam afirmando a auto-percepção e os delírios de grandeza do narcisista. Infelizmente, ao longo dos anos, percebi que esse transtorno tem grande prevalência entre políticos. O assunto ganhou relevância porque psiquiatras, psicólogos e psicanalistas norte-americanos identificam o presidente Trump como um exemplo perfeito da moléstia. E que atinge também personagens araucarianos.

Normalmente esse tipo de transtorno é danoso para as pessoas que convivem com o narcísico. Mas quando ele detém poder, as consequências são terríveis. Infelizmente parece que o TPN virou uma epidemia entre os políticos brasileiros. E “você sabe quem!” se inclui no diagnóstico. Espero que os eleitores percebam que o seu lugar não é numa cadeira num centro de decisão de poder com uma caneta cheia e bajuladores ao redor. O seu lugar a partir das eleições do ano que vem é num consultório. Com uma longa terapia pela frente.

Robert Waelder*

 

Robert Waelder, 1900-1967 – Psicanalista austríaco. Contemporâneo de Anne Freud, ele foi um dos mais ativos membros da Sociedade Psicanalítica de Viena e editor da revista Imago, um dos ícones da psicologia. Em 1925 ele publicou um estudo sobre comportamento narcisista que se tornou a base para compreensão das personalidades movidas pela auto-imagem exacerbada.

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