Nosso psicógrafo colaborador “recebeu” Malba Tahan*, o escritor brasileiro que fez fama com o livro “O homem que calculava“. Malba pediu que fôssemos portadores da missiva dirigida ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ademar Traiano:
Prezado Dr. Deputado, ilustre presidente da colenda casa de leis do Paraná.
Talvez o sr. lembre dos livros que escrevi. Estão fora de moda nos nossos dias. Mas faziam sucesso quando o sr. era estudante. Gosto de raciocinar como um dos meus personagens prediletos, “o homem que calculava”. E, fazendo as contas como ele fazia deparei-me com alguns números que muito me aguçaram.
Li recentemente que o Congresso (Câmara Federal + Senado) custará 10 bilhões de reais aos brasileiros neste ano. Ou 27 milhões de reais por dia. Ao todo são 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores). Grosso modo, o congresso custa 50 reais para cada brasileiro.
Fiz uma conta rápida, trazendo os números para o quintal paranaense. A Assembléia tem um orçamento de cerca 700 milhões de reais previstos para este ano. É um gasto diário de 1,9 milhão por dia. Custa a cada paranaense, 77 reais. Quarenta por cento a mais do que seus congêneres federais, que como todos sabem têm a fama de um dos legislativos mais caros do mundo.
Não quero com estes números insinuar que a Assembléia é cara, principalmente levando em conta os resultados apresentados. Recentemente dei-me ao trabalho de acessar aquele instrutivo aplicativo “Agora é lei no Paraná”.
Deparei-me com 140 leis de interesse público. O aplicativo selecionou a melhores leis desde 1996, abrangendo, portanto, um período de 21 anos. Uma média de 6,6 leis por ano. Eu não cometeria a leviandade de dividir o orçamento pelo número de leis e dizer que cada uma custou em média 100 milhões de reais (em valores corrigidos,óbvio)… porque eu sei que os deputados aprovaram outras milhares durante o período e que não foram colocadas no aplicativo. Certamente porque as que ficaram de fora não foram consideradas importantes.
Importantes mesmo, nos ensina o aplicativo, são as que dão isenção a entidades, concedem títulos de cidadania, de benemerência e participam de incontáveis comissões. Também batizam rodovias, ginásios de esportes, escolas, viadutos… Por exemplo, achei de enorme relevância e de grande simbolismo dar o nome do arcebispo de Curitiba a um viaduto em Morretes.
Espero, prezado deputado, que o senhor continue com sua diligente e escrupulosa administração. Sei que é empresário do ramo de confecções, e portanto entende muito de custos e de economia. Não deixará que a produtiva Assembléia do Paraná seja injustamente comparada ao perdulário Congresso Nacional. Sugiro que o sr. releia (ou descubra) o livro, “O homem que calculava” de minha autoria. Tem uns truques matemáticos que vão divertir e inspirar sua mente aberta. Se não gostar, sugiro “Sob o olhar de Deus”, também de minha autoria, que traz uma profunda reflexão sobre desigualdades sociais…
Exponenciais saudações,
MT
- Malba Tahan era o pseudônimo do escritor carioca Júlio César de Melo e Souza (1895/1974), autor de 120 livros de fábulas, contos, ficção, matemática recreativa, pedagogia, didática da matemática. “O homem que calculava”, de 1938, foi traduzido em 60 idiomas.
Prezado jornalista Celso Nascimento, sua postagem é antologicamente pertinente; provavelmente o destinatário presidente da já notória Casa dos Horrores não concordará, mas importante efetivamente é que os paranaenses que tomarem ciência dessa missiva hajam em consequência nas próximas eleições, eliminando da vida pública os políticos e/ou mandatários que tem propiciado esse estado de coisas em nosso Estado.
E depois ainda tem gente que reclama que uns miseráveis ganham bolsa-família. Mas não dão um pio sobre a obscenidade que são os gastos com essa casta de iluminados.