Bula política: ler antes de entrar (I)

(por Ruth Bolognese) – Essa bula contém algumas advertências básicas para quem, como o chefe da Força-Tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, ensaia entrar para a politica. Dallagnol tem o perfil dos homens formados e bem informados que sonham em se tornarem líderes para faxinar e melhorar a qualidade da política brasileira. É só um sonho, mas cada um tem o seu.

O primeiro problema é que o nosso procurador da República só conhece políticos em pessoa apenas do lado oposto da mesa dos depoimentos e das delações. Longe dos ternos e gravatas, dos plenários e das luzes das TVs, onde comandam a cena com maestria. E sim cabisbaixos e tão arrependidos que poderiam ser definidos mais ou menos como na piada do português, carcereiro de grandes condenados pela justiça: fora o fato de roubarem, matarem e trucidarem, “são excelentes pessoas”.

O mundo da política que o Procurador pretende entrar é um pouco mais complexo, portanto, do que na sede da Lava Jato. E se existe um local onde a manha, a dissimulação, o jogo de cintura, o beicinho e a enganação pura e simples imperam mais do que numa zona do meretrício, (por favor não enrubesça, Procurador), é na arena política.

Para alertá-lo e evitar transformá-lo, literalmente, num virgem de 40 anos no bordel, esse Contraponto preparou uma bula que, mesmo incompleta e até rasa, contem certos itens que poderão livrar Dallagnol de algumas arapucas pelo caminho. Vamos lá:

1) O Discurso- Sim, o discurso sobre o combate permanente contra a corrupção é muito importante. Vital até. O único senão é que todos , preste atenção, todos os políticos , de todos os partidos, defendem exatamente isso.Com firmeza e emoção. Um exemplo: enquanto escondia caixas e malas com R$51 milhões em dinheiro vivo num apartamento, esse Geddel Vieira Lima ia pra a TV e bradava: “Chega de corrupção. O povo não aguenta mais”.

Percebeu o drama?

2) Os aliados – Aí tem que instalar um radar tipo Forças Armadas Americanas. Se o pretenso aliado chama-lo de “querido”, tiver sotaque carioca e for casado com jornalista de olhos arregalados, vire e diga “Fui”. Certamente ele é da escola daquele ex-presidente da Câmara que hoje cuida dos serviços gerais no Centro Médico de Pinhais;

3) Os apoiadores – Outro perigo iminente. Se o apoiador tiver a língua presa, é bom olhar discretamente os dedos das mãos. Se faltar um, é Ele. Se tiver todos os dedos, é o Palloci. A grande diferença entre ambos é que Palloci entrega a mãe diante de um Juiz e Lula enrola a mãe, o juiz e até o Papa para posar de santo. Melhor ficar longe;

4) Os assessores – Outra zona perigosa. Se ele for fiel, dedicado, sorridente, solícito, bom cabelo e puxa-saco pode acabar num vídeo da Polícia Federal correndo pela rua e carregando uma mala com R$500 mil. Péssimo para a imagem de um Procurador de República com fama de implacável no combate à roubalheira. Mas pode valer o risco, se for ocupar a Presidência da República. Aí não acontece nada, a não ser uma pulseirinha no tornozelo do assessor malaco;

5) Os donos dos Partidos – Partido político no Brasil é como cachorro de raça: cada um tem seu dono e por ele é comandado. Mas, às vezes, o Partido vira uma cachorrada, com vários donos, que também mandam e arrecadam. O nome disso é PMDB e passa, fácil, de cachorrada a ninho de gatos. Fique longe. O Podemos de Álvaro Dias ainda não arrecadou nada porque é virgem em eleições e esse dado indica uma consonância de ideias entre o Procurador e o Podemos. Experimenta, vai!

6) Os empresários – Elimine, de cara, qualquer contato com qualquer empresário que cometa erros de português.

Continua nos próximos capítulos

 

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