Brasil tem cloroquina para os próximos 38 anos

A fé na eficácia da cloroquina é tão grande que o presidente Jair Bolsonaro resolveu fazer um estoque gigantesco da droga que, segundo ele, seria capaz de curar todos os infectados pelo coronavírus – do Brasil e quiçá do mundo. Ele próprio, acometido pela doença, diz sentir-se muito bem por fazer uso do medicamento. O colunista José Casado, do jornal O Globo, fez um levantamento no almoxarifado do ministério da Saúde e descobriu que:

• os laboratórios do Exército entregaram uma encomenda de 2,5 milhões de comprimidos entre abril e junho;
• a pedido de Bolsonaro, o presidente Trump – que já deixou de acreditar no potencial milagroso da cloroquina – mandou para o Brasil uma doação de 2 milhões de comprimidos;
• dois pedidos seguidos ao fabricante Farmanguinhos totalizam outros 7 milhões de comprimidos;
• Tudo somado, dá um total 11,5 milhões de comprimidos;
• Em condições normais, isto é, para atender pacientes que comprovadamente precisam tomar cloroquina ou sua variante mais suave hidroxicloroquina – como os acometidos de lúpus, malária e reumatismo -, seria necessário manter um estoque de apenas 300 mil comprimidos para consumo por um ano. Donde se deduz que, se não se fizer uma campanha maciça para que todos tomem o remédio mesmo sabendo que ele não faz efeito contra a Covid-19, o estoque do governo poderia durar por 38 anos.

Como qualquer medicamento tem prazo de validade (usualmente de dois anos), grande parte dos estoques oficiais de cloroquina poderá ser destinada ao descarte dentro de pouco tempo.

Um problema que o presidente Jair Bolsonaro bravamente quer evitar. Por isso, não perde ocasião de mostrar-se como garoto propaganda do medicamento, a ponto de citá-lo em todas as lives e recomendá-lo em reuniões com líderes mundiais, mostrar-se tomando suas doses diárias enquanto se trata isolado no Palácio da Alvorada e, até mesmo, como ocorreu no último domingo (19), levantar uma caixinha para o público que acredita em mitos num gesto parecido como quem comemora a conquista de um troféu olímpico.

Se uma vacina eficaz aparecer logo – como prometem os cientistas – será necessário descobrir um lugar para enfiar toda a cloroquina que sobrar.