O deputado federal Boca Aberta (Pros-PR) pediu, nessa terça-feira (3), desculpas por ter feito acusações infundadas contra o também deputado federal Hiran Gonçalves (PP-RR) e, a pedido do próprio Gonçalves, também se desculpou com a parte da classe médica brasileira “que quer o bem do povo brasileiro”.
“Eu peço desculpas ao senhor [Hiran Gonçalves] e à grande classe médica profissional deste País que tem tratado, está na linha de frente lá na trincheira, tratando o povo brasileiro com carinho neste estado pandêmico que vivemos. Evidente que tem ‘mala’, mas 99% são homens e mulheres, médicos e médicas que querem o bem do povo brasileiro. A esses profissionais, peço desculpas, a grande classe médica pelo meu erro”, afirmou Boca Aberta.
O parlamentar paranaense prestou depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, onde responde a processo por quebra de decoro (representações 2/19 e 3/19), movido contra ele pelo Partido Progressista (PP), por uma agressão contra Hiran Gonçalves e pela invasão de uma unidade de pronto-atendimento (UPA) na região metropolitana de Londrina (PR), em 2019. O relator do processo é o deputado federal Alexandre Leite (DEM-SP).
Perguntado por Leite se estava arrependido de ter invadido o hospital e se pediria desculpas ao médico que estava de plantão na UPA, Boca Aberta disse que “a vida é um aprendizado” e que “hoje chegaria mais comedido”.
Fato – Na madrugada de 17 de março de 2019, Boca Aberta se dirigiu a um hospital vinculado ao Sistema Único de Saúde em Jataizinho (PR) para realizar o que ele chama de “blitz da saúde”. Acompanhando de assessores, perguntou pelo médico de plantão e, avisado que o profissional estaria na sala de descanso, foi até o local e registrou tudo em vídeo de quase meia hora. Boca Aberta se indignou ao constatar que o médico dormia, ainda que não houvesse pacientes aguardando atendimento, e um tumulto teve início.
O PP acusa Boca Aberta de constranger médicos e profissionais da saúde e ainda de expor suas imagens na internet. O partido acrescentou ainda à representação o fato de o deputado, na edição do vídeo, ter exposto uma criança que, em outra data, passava mal no hospital enquanto aguardava atendimento.
Em sua defesa, Boca Aberta disse que não houve invasão, uma vez que a UPA é pública e que “plantão é plantão” e o médico não poderia dormir, ainda que não houvesse pacientes.
“Eu cheguei e puxei o cobertor. ‘Ô, doutor, o senhor tem que trabalhar, o senhor não tem que dormir’. Eu comecei minha ação de falar. Não houve desrespeito algum. Evidente que em certo momento houve um trecho mais acalorado, dentro do recinto, onde foi franqueada a minha entrada”, relatou Boca Aberta. “Nós temos as nossas prerrogativas. Eu não fui lá causar tumulto. Eu não fui lá xingar ninguém.”
Os deputados Mário Heringer (PDT-MG) e Dra. Soraya Manato (PSL-ES) condenaram a conduta de Boca Aberta. Mário Heringer desafiou Boca Aberta a visitar um presídio em vez de um hospital.
Soraya Manato, chorando, defendeu o direito de descanso do médico quando não há pacientes. “Você errou com sua atitude. A gente não tem autoridade para chegar em qualquer lugar prendendo as pessoas, porque nós somos deputados federais. Nós estamos deputados federais”, afirmou a parlamentar.
Hiran Gonçalves – Com relação às acusações feitas contra o deputado Hiran Gonçalves, Boca Aberta admitiu ter errado ao acusar o parlamentar de Roraima de ter aceitado doações de empresa investigada na operação Lava Jato. Boca Aberta disse ter baseado suas acusações em uma rápida pesquisa que fez na internet e explicou que houve um problema na hora de imprimir as informações.
Hiran Gonçalves negou as acusações e disse ter sido exposto, mas aceitou o pedido de desculpas de Boca Aberta e solicitou ao representado que o fizesse também à classe médica brasileira.
“Casos médicos são apaixonantes. Da maneira como se conduz, o senhor não coloca a sociedade contra um colega de Jataizinho. O senhor coloca a sociedade contra uma classe de mais de meio milhão de profissionais”, declarou Gonçalves.
Discussões – A reunião desta terça do Conselho de Ética foi marcada por debates intensos entre Boca Aberta e Mário Heringer. Houve também discordâncias entre o representado e o relator, Alexandre Leite, em relação a datas informadas nos autos e à apresentação de atestados de saúde por Boca Aberta em dias de oitiva.
Alexandre Leite deu por encerrada a instrução probatória do caso. “Eu vou fazer a recomendação que eu achar plausível. Quem vai dizer se os fatos imputados ou não a vossa excelência são válidos ou não é o conselho”, disse o relator.
O caso de Boca Aberta já havia sido analisado em 2019. Em dezembro daquele ano, o Conselho de Ética aprovou a pena de suspensão do mandato por seis meses, por dez votos a um, mas Boca Aberta recorreu, alegando que testemunhas não tinham sido ouvidas pelo relator. O recurso foi aceito em março pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Da Agência Câmara de Notícias.