Beto Richa e os compromissos com o erro

(por Ruth Bolognese) – Aproxima-se o momento em que o governador Beto Richa terá de decidir entre o pecado e o pecador, entre os amigos e os erros cometidos pelos amigos e, principalmente, entre as próprias escolhas erradas e certas que fez ao longo da vida pública. Seria recomendável, até, não vestir mais a camiseta amarela que usou no almoço deste sábado com o amigo Luiz Mussi, onde inscreve a frase (em inglês) que denota seu gosto por um “estilo de vida selvagem”.

Desde o já distante escândalo da sogra, em que um dos seus principais assessores, Ezequias Moreira, foi flagrado recebendo os honorários em nome da sogra contratada no gabinete do então deputado estadual Beto Richa, outros escândalos foram surgindo e conduzindo o governador para um campo minado. “Não perdoo o pecado, mas perdoo o pecador”, disse ele para justificar a proteção oficial dada ao assessor, de quem nunca se afastou.

Veio o escândalo de licitações fraudadas e organização criminosa na chamada Operação Voldemort, do Gaeco, o braço investigador do Ministério Público. E o primo Luiz Abi Antoun, assíduo frequentador do núcleo das campanhas eleitorais e dos gabinetes, tanto de prefeito, quanto de governador, ocupados por Beto Richa, foi preso. Tornou-se, na versão do Palácio Iguaçu, um “primo distante”, quase um desconhecido. A operação Voldemort já condenou Luiz Abi Antoun e outros envolvidos e prossegue. Richa negou que o primo distante tenha participado de qualquer arrecadação para suas campanhas.

Em seguida, outra operação, a Publicano, atingiu em cheio Marcio de Albuquerque Lima, chefe da Receita Estadual em Londrina e co-piloto de corridas de Beto Richa, frequente nas festas ao lado do governador. E também, Paulo Roberto Midauar, empresário do ramo de combustíveis, influente junto ao governador na indicação para postos na administração, além da própria irmã. Ambos foram presos.
Numa das declarações mais objetivas sobre essas operações, o governador afirmou que não “tinha compromisso com o erro”, ou seja, amigo ou parente distante, todos deveriam ser submetidos a investigações e, se culpados, também punidos.

Mas veio a terceira Operação do mesmo Gaeco, a Quadro Negro, onde um amigo de viagens internacionais do governador, Maurício Fanini, costumava afirmar na Fundepar, onde trabalhava, que só tinha um chefe, o governador Beto Richa. Na Fundepar, o MP descobriu que Fanini causou um rombo de mais de R$ 20 milhões, retirados dos recursos para reformar e construir escolas públicas. E o dinheiro, conforme ainda o Ministério Público, teria ido direto para a campanha à reeleição do governador Beto Richa e também para candidatos aliados. Fanini foi preso na manhã deste sábado (16).

Há menos de 2 meses outra investigação do Ministério Público encontrou indícios de favorecimento ilícito à família Richa na compra de um terreno de grande porte, próximo à Serra do Mar, um mês antes do Eixo Modal de Paranaguá ser criado por decreto do governador. O comprador? Um amigo muito próximo do governador, Jorge Atherino, que mantém sociedade com uma empresa chamada BFMAR, exatamente as iniciais da família Richa inteira – Beto, Fernanda, Marcelo, André e Rodrigo. O Superior Tribunal de Justiça, STJ, para onde seguem os processos de quem tem foro privilegiado, mandou prosseguir com essas investigações, assim como fez com as demais.

O governador Beto Richa tem usado termos fortes, como “pecado e pecador” e tentativas de fazerem “ligações insanas” entre sua família e a de amigos e até anunciou que vai processar delatores e autores de falsas denúncias. Pode ser um caminho. Mas, talvez, seja hora de o governador refletir sobre suas ligações, insanas ou não, que tanto têm dado trabalho para investigadores de crimes contra o patrimônio público no governo.

Pode até não ser de bom tom lembrarmos aqui o velho ditado “diz-me com quem andas e…” num momento em que a Operação Quadro Negro se aproxima de um desfecho que pode abalar definitivamente o governo. Mas o fato é que pecados, pecadores, erros e amigos errados já se tornaram uma rotina na vida pública do Governador.

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