Os jornalistas Ivan Santos e Narley Resende, do jornal Bem Paraná, tiraram neste fim semana uma declaração aparentemente inusitada do ex-governador Beto Richa: ele poderá ser candidato “avulso” ao Senado – isto é, sem vinculação na chapa oficial de nenhum dos dois candidatos a governador da mesma corrente política – Cida Borghetti e Ratinho Jr. e, remotamente, Osmar Dias.
A revelação de Beto pode esconder a motivação real de sua dúvida: os atritos que ele e seu grupo de amigos e correligionários mais próximos vêm enfrentando dentro do governo de sua sucessora, a governadora Cida Borghetti (PP), candidata à reeleição. Beto reclama do tratamento que vem recebendo e vê no afastamento de alguns dos seus a subrreptícia intenção de Cida e de seu marido, Ricardo Barros, de desvincular da campanha a sua imagem para evitar o desgaste das sucessivas denúncias de corrupção de que vem sendo alvo.
A demissão de Deonilson Roldo da Copel e a ameaça de exonerar também o secretário de Cerimonial, Ezequias Moreira, são dois episódios que Beto ainda não engoliu. Afora outros casos de menor repercussão.
Sair “candidato avulso” pelo PSDB é a mesma coisa que tirar o partido da aliança com Cida, impondo-lhe grave perda no tempo de propaganda eleitoral e acesso aos fundos partidário e eleitoral – algo que não estava nas contas do articulador político, deputado Ricardo Barros, marido de Cida. É claro que a ameaça está apenas implícita, mas ele prefere atribuir a eventual decisão de não fazer parte da aliança porque haveria, dentre os tucanos, correntes que defendem uma composição com o candidato Ratinho Jr. (PSD) e até mesmo com Osmar Dias (PDT). Richa acha mais prudente não causar divisão.
Veja trecho da entrevista do Bem Paraná:
BP – O senhor anunciou que é pré-candidato ao Senado, mas ainda não definiu oficialmente em qual chapa vai concorrer e quem vai apoiar ao governo. E tem dois aliados como pré-candidatos: a governadora Cida Borghetti e o deputado Ratinho Jr. Qual a tendência hoje?
Richa – A tendência, sendo muito franco, majoritária no PSDB é caminhar com Cida. Existe um grupo expressivo que quer Ratinho, até porque ele foi parte do nosso governo. E tem alguns que defendem também Osmar Dias. No momento adequado, na convenção nós vamos decidir, respeitando o foro democrático, até para ter união do partido. Que nada seja imposto. Tem também partidos que querem estar juntos conosco, que é importante, assim como PSB e Democratas, que foi a mesma união feita para eleição de Rafael Greca. São partidos expressivos, com grandes lideranças em todas as regiões do Paraná, com bom tempo de televisão. Também é importante pesar as propostas do governo.
BP – Pode ser uma candidatura avulsa?
Richa – Pode. É possível, claro que é possível. Se não houver consenso, é possível, sim, uma candidatura avulsa. Com toda cautela porque é uma decisão importante para o Estado. Quem vai ter a melhor proposta para o governo do Estado? O PSDB vai poder opinar? E os partidos aliados? Não apenas pensar na eleição, quem tem mais força eleitoral. É importante pensar no depois, em quem vai ter melhores condições de conduzir o Paraná. Quem vai ter condições, por exemplo, sem preguiça e sem demagogia, de preservar as conquistas que o Paraná teve a duras penas. O equilíbrio das contas públicas, que permite todo esse investimento que está acontecendo no Estado. Isso tudo vai ser pesado em momento oportuno. Evidente que com a proximidade das convenções, as conversas vão se intensificando. Até agora estava meio morno, agora começa a esquentar. Mas vai ser isso, decisão em convenção. Eu não sou dono do partido. Estou presidente.
Vai se fazer de “piloto solitário” …