Passados mais de 20 anos, bancos que receberam recursos do Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) ainda têm dívida de quase R$ 30 bilhões com os cofres públicos. Na comparação, seria como se devessem mais de três orçamentos anuais da cidade de Curitiba ou quase meio orçamento do governo do Paraná.
O dado sobre o montante da dívida dos bancos consta de resposta do Banco Central a um pedido informações encaminhado pelo deputado Gustavo Fruet.
A quase totalidade do valor se concentra em dois casos emblemáticos da crise que atingiu o sistema bancário brasileiro logo após a implantação do Plano Real, no governo Fernando Henrique Cardoso, na segunda metade dos anos 1990. Esta crise levou à sepultura os então gigantes Banco Nacional e Econômico que, embora socorridos por recursos do Proer, não resistiram à extinção. O que ficaram devendo, R$ 28 bilhões, no entanto, nunca mais voltou aos cofres da União.
Nos seus momentos de maior grandeza, o Banco Nacional tinha Ayrton Senna como garoto-propaganda.
Uma exceção envolveu o banco paranaense Bamerindus, que disputava com o Itaú a segunda posição entre as maiores instituições financeiras privadas do país (o primeiro já era o Bradesco). Fundado em 1927 pelo lendário banqueiro de Tomazina (Norte Pioneiro) Avelino Vieira, o Bamerindus foi vítima de boatos quanto à sua solvência e de uma sangria de saques que, em poucos dias, o deixaram incapaz de sobreviver.
A solução encontrada pelo Banco Central foi incluí-lo no Proer com a condição de que fosse vendido na bacia das almas ao HSBC. O Proer injetou quase R$ 3 bilhões na negociação, mas a dívida foi totalmente liquidada, de maneira regular e dentro do prazo.
A mesma situação não se deu com o mineiro Nacional (família Magalhães Pinto) e com o baiano Econômico (família Calmon de Sá), socorridos à época com mais de R$ 11 bilhões. Embora parte da dívida tenha sido liquidada, o saldo devedor somado às correções e aos juros apontam uma pendência hoje (provavelmente insolúvel) de mais R$ 28 bilhões.
O Proer foi objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Federal em 2001/2002. Presidida pelo deputado Gustavo Fruet (que na época cumpria seu primeiro mandato), a CPI apontou em seu relatório final “omissão criminosa” do Banco Central por falta de critérios na liberação de créditos para as instituições financeiras.
O dono do banco Econômico, Calmon de Sá, chegou a ser condenado à prisão por fraude. O mesmo ocorreu com membros da família Magalhães Pinto, que controlava o Nacional.