(por Ruth Bolognese) – Fica cada vez mais fácil entender porque as delações – condenadas historicamente pelo peso da traição – são “premiadas”. Algumas merecem mesmo, por expor intimidades. E não se fala aqui de intimidades pessoais, que essas devem ser preservadas, por conta do foro de cada um.
São as intimidades do poder que impressionam. Os delatores se esmeram nos detalhes e não deixam margens de dúvidas: nessa Operação Quadro Negro um ministro de Estado, Ricardo Barros, liquidou um cunhado por R$15 mil reais mensais, numa negociação de balcão, como se pedisse 300 gramas de mortadela. E ainda ofereceu de troco um cargo no gabinete da mulher, Cida Borghetti, vice-governadora. Na cara dura, gente.
Dois deputados tradicionais da Assembleia, Valdir Rossoni e Ademar Traiano, esfregavam as mãos e pediam mais quando encontravam o intermediário do dinheiro público pelos corredores da Casa do Povo.
Uma reunião na sala familiar do governador Beto Richa montou todo o esquema para irrigar a campanha dele à reeleição com os recursos que deveriam ir para construir ou reformar escolas.
Uma conversa corriqueira trata de tentar comprar o jornalista Celso Nascimento, editor desse Contraponto, para evitar a divulgação da reportagem sobre o roubo dos recursos das escolas. A reportagem, como se sabe, foi divulgada na íntegra.
A sutileza dos detalhes dispensa provas. Ou melhor, para os paranaenses que acompanham diariamente os escândalos que se amontoam nos gabinetes públicos, se vierem as provas, gravações, notas fiscais ou fotografias, é totalmente irrelevante. Até porque no Brasil de hoje, ou de Temer, absolve-se os culpados por excesso de provas.
O que vão ficar mesmo, em nossos corações e mentes, são essas histórias contadas por delatores. Cada uma delas com um detalhe escabroso que ultrapassa a ficção. Mesmo que se tenha uma mente criativa à lá Gabriel Garcia Marques e seus 100 anos de solidão. O que não é, nem de longe, o caso dos delatores.