Analistas dizem que, no discurso na ONU, Bolsonaro acabou sendo Bolsonaro

Para o comentarista político da Globonews, Valdo Cruz, “apesar da promessa feita pelo próprio presidente da República de fazer na ONU um discurso em tom conciliador, Jair Bolsonaro acabou sendo Jair Bolsonaro: fez uma fala agressiva e de ataques a países,  ONGs e lideranças indígenas, sem autocríticas à sua política ambiental e de reafirmação da soberania nacional para cuidar da região amazônica”.

De acordo com o comentarista, o presidente bateu na tecla de sempre, criticando a ameaça socialista que, segundo ele, rondou o Brasil, disparando novamente contra Cuba e Venezuela. “E lembrou que, em sua avaliação, a ideologia de esquerda estava invadindo as famílias brasileiras.Nestes campos, nada de novo, mais do mesmo. Um discurso que deveria ter ficado no final da campanha eleitoral mas que ele busca manter aceso depois de quase nove meses de governo”.

Fala aos seus – Vera Magalhães, de O Estado de S. Paulo, segue na mesma linha de Cruz e afirma que o discurso foi tudo, menos conciliador. “Falharam os auxiliares que subsidiaram o presidente de dados e passaram a nós, jornalistas, antecipadamente, a ideia de que o presidente brasileiro tentaria dissipar a imagem ruim que seu governo tem no exterior. Falhamos nós em acreditar que Bolsonaro seria outro que não ele mesmo neste palco global. Diante do mundo, Bolsonaro preferiu falar aos seus, aos convertidos, e manter sua postura de confronto com tudo e todos os que não pensam como ele, de países a grupos políticos, passando por instituições como a própria ONU.

A comentarista diz que “foram 31 minutos de bordoadas e caneladas. Em vez de começar falando do Brasil e tentando mostrar o que seu governo fez, abriu a fala com uma cara de Guerra Fria, falando de “agentes cubanos”, do Mais Médicos, da Venezuela e fazendo uma defesa da ditadura militar brasileira. Um pé nos anos 1960, outro nos 1970”.

Um estadista – Já o blog O Antagonista garante que Bolsonaro fez um discurso de estadista, “goste-se ou não”. O blog afirma que o discurso foi forte, com o presidente dizendo que “o Brasil se encontrava ameaçado pelo socialismo, atacou a corrupção que assolava o país nos governos petistas, com elogio explícito a Sergio Moro, e a criminalidade que vicejou nos governos anteriores e que começa a diminuir no seu primeiro ano de mandato. Partiu para cima do regime venezuelano, do Foro de São Paulo, da ação cubana na América do Sul e do ambientalismo manipulado por uma visão colonialista, nas suas palavras”.

O  Antagonista destacou alguns pontos da fala: “O presidente afirmou que a Amazônia não está em chamas, ao contrário do que diz a mídia internacional “sensacionalista”, e criticou a tentativa de tolher a soberania brasileira na região, sem citar o francês Emmanuel Macron. Atacou o cacique Raoni, queridinho na Europa, dizendo que ele não é o único representante dos povos indígenas, e leu uma carta assinada por representantes de 52 tribos que pediam desenvolvimento econômico nas reservas e legitimavam a índia Ysani Kalapalo, que integra a comitiva brasileira como representante dos indígenas brasileiros”. Por fim, o blog diz que, “finalmente”, o presidente fez um discurso de estadista – “sem deixasr de ser Bolsonaro, claro”.

Guerra fria – Leonardo Sakamoto, da UOL, comenta que Jair Bolsonaro nem tentou parecer palatável à comunidade internacional de países na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, na manhã desta terça (24). “Com clara dificuldade de ler o discurso no teleprompter, o presidente fez uma intervenção profundamente ideológica, como se ainda fosse vigente a Guerra Fria, batendo no socialismo, criticando desafetos globais, atacando a mídia e negando responsabilidade no aumento do desmatamento da Amazônia. Recebeu aplausos protocolares da maioria dos presentes e efusivas comemorações do bolsonarismo-raiz no Brasil – para quem, aliás, as palavras parecem ter sido dirigidas”, escreveu.

Discurso necessário – Para Rodrigo Constantino, da Gazeta do Povo, “em suma, foi um discurso ideológico, patriótico, mas necessário. Um chute na canela dos socialistas bem no seu território, já que a ONU é o ambiente da esquerda caviar global”.  “O país que represento é um que está se reerguendo”, disse. Nos deixamos seduzir por sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade, mas o poder absoluto.

No exterior

O jornal francês Le Monde  traduziu o discurso de Bolsonaro como “iliberal” e caracterizou a fala como uma “mistura de arrogância com digressões confusas”. O jornal ainda destacou a réplica do brasileiro sobre a Amazônia, a crítica feita à imprensa e o ataque direto a lideranças indígenas, em especial, ao cacique Raoni. O periódico também comentou sobre as críticas que Bolsonaro fez ao presidente Emmanuel Macron, sem citá-lo.

O jornal português Público  demonstrou certa decepção com a fala do presidente. “Havia muitas expectativas sobre o que diria Jair Bolsonaro no seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, que abriu nesta terça-feira em Nova Iorque. Mas ele foi igual a si próprio”, contou o periódico.

Na Alemanha, citada ao lado da França no discurso do presidente brasileiro, a fala de Bolsonaro não teve grande repercussão. No Süddeutsche Zeitung, um dos principais do país, Bolsonaro foi citado dentro de matéria que comentava sobre a participação de Donald Trump na ONU. “Na Assembléia Geral da ONU, Donald Trump falou diretamente com Jair Bolsonaro – e elogia o patriotismo. É impressionante como os dois soam parecido”, disse o alemão.

No Reino Unido, a participação de Jair Bolsonaro também teve pouco impacto. Assim como no Zeitungno The Guardian, o brasileiro foi citado em um comentário sobre Trump. O veículo disse que Bolsonaro promoveu “ataques trumpianos” ao falar sobre “incêndios em andamento na Amazônia, que ele descreveu falsamente como uma região ‘praticamente intocada’”.

 

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