Aloysio, outro tucano irado

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, fundador do PSDB, ficou irado com o programa que o partido levou ao ar na noite desta quinta-feira (17) em cadeia nacional de tevê. “É um monumento à inépcia publicitária“, disse ele em longo texto publicado no Facebook. Se tiver paciência, leia abaixo:

Considerações sobre o programa partidário do PSDB

O programa partidário do PSDB é um monumento à inépcia publicitária, e a expressão de uma confusão política digna de figurar numa antologia do gênero. Inépcia porque, já desde os spots que anunciavam o que estava por vir, afirma que “o PSDB errou”, sem dizer exatamente onde está o erro.

Depois se viu: a fisiologia como sistema de governo, a troca de favores e a distribuição de vantagens espúrias como forma de obter votos nas assembleias representativas, coisa que o PSDB teria aceitado e praticado, segundo o programa.

Eu diria aos que conceberam e aprovaram essa mensagem: alto lá!

Os governos tucanos que apoiei ou dos quais participei não se reconhecem nessa caricatura. Tenho 30 anos de vida parlamentar e nunca recebi dinheiro ou pedi vantagens para apoiar as agendas em que acredito.

De quem o programa está falando?

O sujeito desses verbos que indicam práticas reprováveis são “os políticos”. É uma forma pantanosa e politicamente irresponsável de diluir as culpas pela degradação institucional que, ao lado da crise econômica e da desorganização administrativa, constitui o legado de um partido político.

E esse não é o PSDB. É o PT.

O PT, aliás, do Lula ao mais modesto dos seus aderentes, deve estar dando gargalhadas diante desse enorme tiro que a direção interina do PSDB desferiu no nosso próprio pé.

Os culpados não são apenas “os políticos”, expressão de um linguajar próprio da crítica vulgar dos que, no afã purificador muito característico da direita que rejeita “tudo o que aí está” e joga fora o bebê junto com a água do banho. Parece que quem erra, segundo o bordão repetido à exaustão nas inserções, foi o PSDB.

Como instrumento de luta política – se não for isso, para que serve? – o programa não passa de uma jeremiada que não diz de que lado está nesse cenário no qual nos inserimos, combatendo toda forma de populismo.

Dirão alguns que o programa tem como objetivo a exaltação da opção parlamentarista que consta do nosso estatuto. Ora, a defesa do parlamentarismo não se faz no ambiente asséptico das ideias puras.

O programa vai ao ar no contexto de uma árdua luta política, em que o presidente Temer se empenha, com coragem e determinação, para fazer avançar um conjunto de reformas essenciais para chegarmos a 2018 com um país um pouco mais arrumado. E também, digamos francamente, no ambiente de uma luta interna em que uma ala do partido pretende rever a decisão da comissão executiva, reiterada em reunião da executiva ampliada, de apoiar o governo Temer e dele participar.

O governo é adjetivado como fraco, impopular, com dificuldades de governar, sem recorrer ao fisiologismo. Ora, se a participação de membros de partidos aliados na administração é normal e recorrente tanto no presidencialismo como no parlamentarismo, mais ainda isso se explica no atual governo que assumiu o encargo de dirigir a Nação a partir de uma reação congressual, impulsionada pela opinião pública, à derrocada do governo Dilma.

O presidente Temer teve a visão e a habilidade política de transformar o amálgama de forças heterogêneas que resultou independente, em uma maioria positiva para apoiar uma ambiciosa agenda reformista. Para isso, compôs um governo em que estão presentes representantes de partidos da antiga situação, com os da antiga oposição, PSDB inclusive.

Pergunto aos marqueteiros: o apoio do PSDB ao governo Temer, os cargos que ocupamos, foram negociados por baixo do pano, por fisiologismo ou apego aos cifrões que aparecem nos olhos dos bonequinhos em que o programa representa “os políticos”?

Talvez, então, nós sejamos os puros entre os impuros!

Que se aponte com clareza quem são os impuros, porque eu, como ministro, não visto a carapuça.

O locutor, a certa altura, lá pelo fim da peça, diz que o Brasil está paralisado há três anos. Não está, não. No meu ministério não está, nem do da Luislinda, no do Bruno, ou do Imbassahy. No Congresso, a agenda legislativa avançou, e avançará mais, e muito mais, se o PSDB deixar de ser um fator de crise e de desorganização da base parlamentar. E também na esfera administrativa, há movimento e inovação.

Em suma, esse programa não me representa. Não participei de sua concepção, e em nenhum momento minha opinião foi demandada. Ele passa ao largo dos problemas urgentes do país e das opções que o PSDB tem o dever de apresentar para seu enfrentamento.

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