A volta de Camões

Por Claudio Henrique de Castro –  O destino dos censores da época da ditadura foi previsto na Constituição de 1988: “os atuais ocupantes do cargo de censor federal continuarão exercendo funções com este compatíveis, no Departamento de Polícia Federal (PF), observadas as disposições constitucionais.”

Ficariam asilados na PF até vestirem o pijama da aposentadoria, mais um “deixa pra lá” do direito brasileiro.

A nova República não poderia conviver com censores. Reza a Constituição que é livre a liberdade de pensamento e de opinião, é livre a expressão de comunicação, independente de censura ou licença.

Quem imaginaria que, após 30 anos, aquelas tumbas seriam abertas e a liberdade de expressão e de imprensa seriam atacadas?

A censura impede a discussão intelectual permanente e a disputa de opiniões. A liberdade de expressão e de imprensa é a base, a matriz e o fundamento de toda e qualquer tipo de liberdade e de direitos (BVerfGE 5, 85).

Permanentes ataques do poder executivo à imprensa representam o aberto descumprimento da Constituição.

Difamações e injúrias à jornalistas, cortes financeiros direcionados em razão de críticas, lobbies para demissão de jornalistas críticos e a instauração de inquéritos policiais de toda ordem contra os inimigos do regime são inconstitucionais. Um super secretário de comunicação que se auto remunera com verbas de comunicação, completa este cenário.

A censura, qualquer tipo de censura, mesmo aquela ordenada pelo Poder Judiciário, mostra-se prática ilegítima, autocrática e essencialmente incompatível com o regime das liberdades fundamentais consagrado pela Constituição da República (Celso Mello – Agência Brasil).

Quem são os censores? Nelson Rodrigues diria: são os cretinos fundamentais, aqueles que sobem num banquinho, começam a discursar e atraem multidões de outros cretinos fundamentais. Sempre se dão bem, casam-se com as grã-finas das narinas de cadáver.

Sob censura desde a promulgação do Ato Institucional n° 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, o jornal O Estado de S. Paulo passou a publicar trechos de “Os Lusíadas”, poema épico do português Luís de Camões, nos espaços das matérias vetadas pelos censores. (memorial da democracia)

Camões voltou aos jornais brasileiros?

2 COMENTÁRIOS

  1. Existem cretinaços no Supréme, ao menos dois, que são obstinados por ditas “fake news” que revelem suspeitas atitudes de algumas personalidades … Camões nada, publique-se Aníbal Bruno!

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