A segunda morte de “Luzia”, a brasileira de 13 mil anos

A segunda morte de "Luzia", a brasileira de 13 mil anosMais antiga instituição histórica do país, o Museu Nacional do Rio, atingido por um incêndio de grandes proporções neste domingo, foi fundado por D.João VI, em 1818. É vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com perfil acadêmico e científico. Tem nota elevada por reunir pesquisas raras, como esqueletos de animais pré-históricos e múmias.

O local foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No acervo, com cerca de 20 milhões de itens, há diversificação nas peças, pois reúne coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. Há, ainda, uma biblioteca com livros com obras raras.

Foi em Minas, na lapa Vermelha, na região de lagoa Santa, que foi encontrado o crânio da Luzia, fóssil humano mais antigo achado na América, com cerca de 13 mil anos, que fazia parte do acervo do Museu.

Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil.

O crânio de Luzia e a reconstituição de sua face – revelando traços semelhantes aos de negros africanos e aborígines australianos – estão em exibição no museu. A descoberta de Luzia mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas. É considerado o maior tesouro arqueológico do país.

Também exposto no saguão do museu está o maior meteorito já encontrado no Brasil, o Bendegó, com 5,36 toneladas. A rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no Sertão da Bahia. Na época do achado era o segundo maior do mundo. Atualmente, ocupa a 16ª posição. A pedra espacial integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.

A primeira réplica de um dinossauro de grande porte já montada no Brasil é outra das maiores atrações do Museu Nacional. Tanto assim que o Maxakalisaurus topai, um herbívoro de 9 toneladas e 13 metros de comprimento, tem uma sala só para ele. O dinossauro viveu há cerca de 80 milhões de anos na região do Triângulo Mineiro. “Sem dúvida, ele é o preferido do público”, sustenta Alex Kellner. “É o meu preferido também”, confessa o diretor, que é paleontólogo.

As múmias também estão entre os grandes destaques do acervo. O corpo mumificado de um índio Aymara, grupo pré-colombiano que vivia junto ao Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia, abre a série de múmias andinas do Museu Nacional. Trata-se de um homem, de idade entre os 30 e os 40 anos, cuja cabeça foi artificialmente deformada, uma prática comum entre alguns povos daquela região. Os mortos Aymara eram sepultados sentados, com o queixo nos joelhos e amarrados. Uma cesta era tecida em volta do defunto, deixando de fora apenas as pontas dos pés e a cabeça.

O Museu Nacional tem a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. A maior parte das peças foi arrematada por D. Pedro I, em 1826. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria é proveniente da região de Tebas. Lápides com inscrições em hieróglifos também fazem parte da coleção.

Os fósseis da preguiça-gigante e do tigre-de-dente-de-sabre que viveram há mais de 11 mil anos são dois expoentes do período da megafauna brasileira e encantam as crianças há décadas, muito antes das primeiras réplicas de dinossauros serem montadas no museu. Diferentemente dos dinossauros, os animais da megafauna conviveram com os homens pré-históricos. A preguiça-gigante chegava a ter o tamanho de um carro como o Fusca. “A preguiça foi, durante muito tempo, o maior organismo fóssil montado”, conta Alex Kellner. “Fiquei com o coração partido, ainda criança, quando descobri que não era um dinossauro.”

O trono do rei de Daomé está na coleção do Museu Nacional desde 1818. O reino da África, criado no século 17, se situava onde hoje está o Benin e durou até o fim do século 19. A peça foi uma doação dos embaixadores do Rei Adandozan (1797-1818) ao príncipe regente D. João VI. O reino ficou conhecido por ter um exército formado por mulheres guerreiras.

O Museu Nacional tem uma coleção significativa de peças indígenas, mostrando a importância desses povos na formação do País. Um dos maiores destaques são as máscaras feitas pelos índios Ticuna, que representam entidades sobrenaturais e são usados no “ritual da moça nova”, que marca a primeira menstruação das meninas e sua entrada na vida adulta.

A Biblioteca Central do Museu Nacional foi criada em julho de 1863 e uma das maiores da América Latina na área de ciências antropológicas e naturais. São mais de 500 mil títulos, entre eles obras raras, como a publicação “Historia naturale”, de autoria de Plínio, o Velho, datada de 1481 – a obra mais antiga da coleção.

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