A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PR) marcou para dia 22 as eleições das novas diretorias e conselhos da seccional paranaense e das 48 subseções espalhadas no interior do estado. Serão escolhidos também os conselheiros federais e a diretoria da Caixa de Assistência dos Advogados.
São cerca de 67 mil eleitores aptos a votar. A campanha ferve e caminha para reproduzir, em escala de microcosmo, a aguda polarização política que marcou as eleições para a Presidência da República deste ano.
Duas chapas disputam a eleição – uma, a tradicional XI de Agosto, que há 40 anos se sucede no comando da instituição, e a outra, de nome Algo Novo na OAB, formada por representantes de correntes que se identificam com a causa, como asseveram, de “resgatar o respeito e a dignidade do advogado paranaense, que foi se deteriorando ao longo do exaustivo continuísmo da elite que comanda a nossa OAB.”
Apesar da insinuada reprodução da divisão entre “nós” e “eles” vigente no discurso dos governos petistas ou dos “vermelhos” e “fascistas” em que se dividiu o eleitorado brasileiro nas eleições de outubro passado, é impossível não perceber que se processa no pleito da OAB/PR um clima de divisão que se assemelha muito às disputas partidárias.
De um lado, na chapa de oposição, tem-se como candidato a presidente Manoel Caetano e, como conselheiro federal, Luiz Carlos Rocha, amigos pessoais e advogados do ex-presidente Lula, afora alguns outros expoentes da militância de esquerda no Paraná. Assim, sob este viés político-ideológico, e até mesmo partidário, é vista a chapa oposicionista Algo Novo pela situacionista XI de Agosto. E vice-versa, a que se acusa como vinculada ao stablishment conservador a chapa XI de Agosto encabeçada pelo advogado Cassio Lisandro Telles.
Mas é de se ver que deixadas de lado as legítimas opções profissionais de advogados componentes da duas chapas, há participações que soariam, digamos, contraditórias – já que entre a dita “elite conservadora” da XI de Agosto há também advogados que puseram suas competências a serviço de campos e correntes opostas.
O advogado Luiz Fernando Pereira, por exemplo, embora inscrito como candidato na chapa XI de Agosto, notabilizou-se como defensor brilhante de causas do presidente Lula, especialmente no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, assim como advoga também para o ex-governador Beto Richa. São posições legítimas, em que o Direito está a sobrepujar quaisquer – ou até inexistentes tendências políticas pessoais. Assim como não se pode criminalizar a atuação de advogados que atuam na chapa “do contra” que têm entre seus clientes personagens acusados de corrupção.
Demonizar ou classificar como partidários os advogados que se colocam a serviço em favor de clientes de dos mais diversos matizes políticos chega a ser um insulto ao livre exercício profissional. Assim, manifestos, que circulam entre os eleitores – contendo acusações de condenável jaez político-partidário, próximos até da “baxaria” – não fazem bem à democracia e à pluralidade que deve imperar quando se trata de reduzir a OAB a níveis abaixo da história das vitoriosas lutas que empreendeu em favor das lutas democráticas em favor do Brasil.
Embora sejam salutares e naturais as divisões que alcançam o âmbito político-partidário, mais produtivo e benfazejo a toda a sociedade brasileira que a instituição seja colocada acima destas diferenças. A OAB é importante demais para sucumbir ao nível da discussão que se processa neste ano eleitoral.
Houve no último parágrafo um pequeno erro de concordância, localizado no verbo ser (sejam), por não acompanhar o plural das palavras subsequentes.