(por Ruth Bolognese) – O terror das donas-de-casa aqui de Paraíso é a fuligem das queimadas da cana-de-açúcar, feitas nessa época do ano, pouco antes da colheita. Não adianta varrer porque fica pior, aí preteia tudo de vez. Tem que lavar e esfregar os pisos com muita água e sabão. Dá mais trabalho do que falar mal do Requião.
As donas-de-casa vão ter que esperar até 2025 para que a mecanização da colheita se estabeleça de vez e os 23 mil trabalhadores que hoje sofrem no eito, em todas as regiões produtoras, encontrem nova ocupação. É acordo firmado entre o governo do estado e a Federação dos Trabalhadores.
A colheita da cana manual é um trabalho duro, pesado, sofrido. A Maria, que faz a limpeza aqui em casa, trabalhou 16 anos na colheita da cana. É uma morenona forte, que saiu do eito por causa de uma dor nas costas de tanto carregar peso. Perdeu o ofício, mas não a força nos braços. Quebra uma vassoura por semana porque delicadeza não se aprende na lavoura – um lugar ao sol, 42 graus, no meio do nada e onde já se entra pisando em fuligem.
E ninguém reclama porque a outra opção é desemprego.