Para quem já lançou projeto para construir ferrovia de US$ 10 bilhões ligando o Mato Grosso do Sul ao Porto de Paranaguá, anunciar que o governo vai “engordar” a praia de Matinhos é “mixaria”. Mas é mais uma daquelas promessas repetidas indefinidamente e nunca realizadas.
<<Veja aqui a parte 1 dessa história>>
De novo, registremos uma premissa: devolver a areia roubada das praias de Matinhos pelas correntes marítimas e pelas frequentes ressacas é uma obra necessária para manter o Litoral do Paraná como um atraente pólo turístico, gerador de riqueza para a população local. Ponto final na premissa.
Agora recordemos que o projeto anunciado por Beto Richa para “engordar” e tornar outras fez aprazíveis as praias de Matinhos não é original nem para o próprio Richa que, em 2013, retomou as promessas de seus antecessores imediatos, os governadores Orlando Pessuti e Roberto Requião.
O projeto de Requião, que tinha a direção dos Portos de Paranaguá e Antonina o irmão psicólogo Eduardo Requião, pretendia vincular a dragagem da baía de Paranaguá ao engordamento da praia. As dragas sairiam da baía, cumpririam uma vagarosa velocidade para atravessar o Canal da Galheta e chegar ao alto mar, defronte a Matinhos, e daí bombear para a praia, através de tubos, a areia retirada das proximidades do cais.
De tão absurda e cara, além de usar areia suja de óleo e outros detritos deixados pelos navios, a ideia foi sepultada pelos ambientalistas, como o professor João José Bigarella, e por órgãos de fiscalização, como o Ibama.
Em 2010, Orlando Pessuti teve ideia pouco melhor: tiraria a areia do alto mar, mais limpa e apropriada, para despejá-la ao longo de sete quilômetros de orla, de Matinhos até o balneário de Flórida. Incluiu no projeto a “revitalização” da cidade de Matinhos, com novas avenidas e calçadões. Custo total de R$ 60 milhões que seria dividido em três partes iguais pelo estado, prefeitura de Matinhos e governo federal.
Pessuti foi a Dilma e estava quase a ponto de garantir os recursos e lançar a licitação. Não deu tempo. A obra ficou no papel.
Beto Richa assumiu no ano seguinte. Mandou engavetar o projeto de Pessuti e fez outro. Além da “engorda” e do paisagismo já previstos, incluiu a “macrodrenagem” dos canais que passam por Matinhos. E de R$ 60 milhões inicialmente previstos pelo governo anterior, o seu projeto custaria perto de R$ 700 milhões! Mais de dez vezes mais!
Claro, nada foi pra frente. Ficou só na festa do anúncio, muito apropriado para quem já pretendia, no ano seguinte (2014), concorrer à reeleição.
Agora vem a “engorda 2″, nos mesmos moldes em que foi pensado em 2013, com o lançamento de edital para empresas que, a preço alto naturalmente, se habilitem a fazer o projeto de engenharia. Os desenhos básicos, bonitos, coloridos, já estão prontos e foram mostrados em outra festa em Matinhos, na última sexta (25). Coincidentemente, faltando poucos meses para o fim do governo e para o início de uma nova campanha eleitoral.
O governador autorizou o início dos procedimentos para a realização do projeto. Nas obras da avenida JK, conhecida como Contorno de Matinhos, serão investidos R$ 32 milhões. A via será inteiramente revitalizada ao longo de 2,4 quilômetros. Haverá dragagem e canalização do Rio do Drago, contornos, rotatória, ciclovias e calçadas, passagens elevadas e implantação de semáforo e de nova sinalização. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) deve lançar a licitação das obras da avenida ainda neste primeiro semestre.
“Uma grande iniciativa, que atende a forte demanda da população de Matinhos”, afirmou o governador a respeito das obras na avenida. “Vamos recuperar a faixa da orla que o mar levou na grande ressaca registrada há quase dez anos”, completou Richa. O investimento previsto na recuperação e revitalização da orla é de R$ 300 milhões.
Os novos projetos, ressaltou Richa, passam a integrar um conjunto de melhorias feitas pelo governo no Litoral nos últimos sete anos. “Estamos seguindo à risca o compromisso que assumimos de transformar essa região, grande anseio dos moradores e veranistas”, afirmou, lembrando também das medidas recentes para a construção da ponte na baía de Guaratuba e dos R$ 482 milhões investidos em saneamento no Litoral.
Para o prefeito de Matinhos, Ruy Hauer, as obras vão mudar o município e a região. “São obras importantíssimas para Matinhos, muito esperadas”, disse ele. “O próprio canal, que é na entrada do município vai ficar uma maravilha”, afirmou. Segundo ele, a duplicação da avenida vai mudar a realidade da cidade.
ESTRUTURANTE – O secretário de Estado da Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, e o presidente do Instituto Águas Paraná, Iram de Rezende, ressaltaram que o projeto de revitalização de Matinhos terá repercussão em toda esta região. “Certamente vai contribuir para o desenvolvimento social e econômico do Litoral”, disse Richa Filho, enquanto Rezende ressaltou o caráter estruturante da iniciativa.
O trabalho para proteção da orla e recuperação da erosão marinha em Matinhos abrangerá cerca de três quilômetros, entre a avenida Augusto Blitskow e a rua Francisco Brener (VER BOX). O Instituto das Águas do Paraná já investiu em torno de R$ 1 milhão para a elaboração do projeto executivo.
Estaria o Brasil vivendo tempos de hiperinflação? Se esse não é o caso, então soa muito estranho que um projeto que em 2010 estava orçado em cerca de R$ 60 milhões, por que hoje, apenas três anos depois, seu custo teria saltado para nada menos de R$ 505 milhões? Este é o mistério que cerca o projeto de engorda de 7 km de praias no litoral do Paraná, entre Matinhos e Flórida.
O projeto foi um dos itens da conversa que o governador Beto Richa teve com a presidente Dilma Rousseff, na semana passada. Ele pediu urgência na liberação de recursos federais naquele montante para a realização da obra – uma ideia que nasceu em governos passados, tomou forma na gestão de Orlando Pessuti e que depois, de gaveta em gaveta, foi tocado em velocidade muito aquém do avanço destruidor do mar.
Para conter a erosão que come as praias, calçadas e avenidas e engole até as casas de veraneio construídas à beira-mar, a obra consiste em dragar areia limpa de alto-mar e depositá-la ao longo de uma faixa de 50 metros de largura por 7 km de extensão. A areia seria contida por gabiões e outras técnicas de engenharia para que outra vez não “fugisse” da orla. Custo deste trabalho a preços de 2010: R$ 30 milhões. Outros R$ 25 milhões a R$ 30 milhões seriam aplicados em obras de paisagismo e recomposição da avenida. Total de cerca de R$ 60 milhões.
Basicamente, o projeto de engenharia e as licenças ambientais foram concluídos pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano em 2010, quando Orlando Pessuti era governador e o arquiteto Forte Netto, secretário. Os custos seriam divididos em três partes – uma do governo do estado, outra da prefeitura e a terceira da União. Esta última chegou a depositar em conta bancária R$ 12 milhões iniciais.
Quando Richa assumiu, em 2011, tudo parou, a pretexto de que o projeto precisaria ser revisado. E de fato foi: o Instituto das Águas se encarregou de agregar à proposta original também a macrodrenagem dos rios e canais que desembocam nas praias.
Ok. A obra de fato ficou um pouco mais complexa, mas engenheiros sanitaristas e ambientalistas consultados pela coluna – que trabalharam ou conhecem profundamente o caso específico do problema que atinge as praias – ficaram espantadíssimos com o acréscimo de preço.
Quer dizer então, perguntam eles, que só a macrodrenagem vai custar mais de R$ 400 milhões? “Tem coisa errada ou muito suspeita nesse negócio”, disse um dos consultados com quase 40 anos de experiência no ramo. Detalhe: R$ 505 milhões é quanto Richa pediu a Dilma, aí não incluídas as contrapartidas da prefeitura e do próprio governo estadual. Ou seja: no total, a previsão de custo deve beirar, pelo menos, R$ 700 milhões – aliás, número citado em entrevista gravada pelo presidente do Instituto das Águas, Marcio Nunes.