Carta de Alexander Carlisle & Thomas Andrews* para Carlos Alberto & Deonilson Roldo
Mui digníssimos ex-governador e ex-chefe de gabinete do pujante estado do Paraná, Brazil.
Através dessa missiva queremos externar nossa mais sincera solidariedade. Sabemos exatamente as agruras que vocês enfrentam nesse doloroso momento.
Nós também passamos por isso, por conta de uma obra de nossa autoria, o navio R.M.S. Titanic. Solidarizamo-nos sobremaneira porque a obra de vocês não foi a pique apenas por um erro de projeto. Mas por excesso de confiança. A presunção que envenenou arrogantes como nós, que achávamos que um navio com casco comum poderia navegar em águas da costa norte da América. É conhecida uma frase que mandamos cunhar e que estava gravada na bóias salva-vidas do navio “Nem Deus pode afundar o Titanic”.
Mil vezes maldita presunção, que carregaremos com nossas almas penadas por toda a eternidade. Sabemos que vocês também construíram uma nau com o título de “Choque de gestão”. Assim como nós, vocês privilegiaram aqueles que viajavam na primeira classe, e que se salvariam em caso de naufrágio.
Os passageiros da segunda e terceira classes na maioria imigrantes de poucas posses e os trabalhadores do navio e os marinheiros seriam deixados para morrer afogados ou congelados na costa canadense, por imprudência (ou de novo a maldita arrogância) nossa, que não previmos ou não acreditamos que o Titanic pudesse ter o casco rasgado por um pedaço de gelo. Poderíamos ter sido mais precavidos e utilizar chapas mais resistentes na construção do casco .
No vosso caso, poderiam ter feito um governo mais resistente à corrupção. Quando se navega em águas perigosas, os riscos são enormes. Assim é na política. Deve-se blindar um governo como quem constrói um navio quebra-gelo ou um encouraçado. As águas da política são revoltas e cheias de ameaças. Até belas sereias com seus cantos hipnotizantes (uma alegoria à corrupção) habitam os mares e seduzem políticos de todas as ideologias.
E vocês desfiaram icebergs que poderiam ser batizados com nomes como “Publicano”, “Quadro Negro”, “Patrulhas escolares”, “Lava-Jato”, “Eixo modal de Paranaguá”… Enfim, que vocês resistam às águas congelantes em que estão agora boiando. Já devem estar se sentindo abandonados por aqueles que antes frequentavam os salões destinados aos passageiros da primeira classe.
É o que desejam sinceramente dois engenheiros (como o ilustre ex-govenador) que a história certamente não absolverá.
P.S. Nós não fomos condenados formalmente pela nossa negligência, mas nossos nomes estarão eternamente associados à maior tragédia marítima de todos os tempos.
Respeitosamente:
A.C & T.A.