Doações da Odebrecht a Richa vinham desde 2008

Ex-diretor da Odebrecht para a região Sul do país, o engenheiro Valter Lana não figurou entre as grandes “estrelas” das delações da empreiteira. Ele saiu da empresa antes de 2014, mas, segundo relatou no depoimento que prestou em abril de 2017 ao Ministério Público Federal, era o homem de ligação para fornecer contribuições às campanhas de Beto Richa de 2008 (a prefeito de Curitiba) e 2010 (a governador do estado).

Nas duas ocasiões, ele foi procurado pelo coordenador das duas campanhas, o empresário Fernando Ghignone, ex-presidente da Sanepar e secretário da Administração nas gestões do ex-governador Beto Richa e mantido no cargo por sua sucessora, Cida Borghetti.

Nas duas eleições os pedidos de doação foram atendidos sempre em caixa 2 e em dinheiro, totalizando R$ 550 mil. Em 2008, R$ 100 mil reais. Em 2010, já conhecido pelos codinomes de “Brigão” e “Piloto” nas planilhas de Odebrecht, Richa passou a “valer” mais e ganhou R$ 450 mil. Os repasses, relatou Valter Lana, eram sempre aprovados por seu superior, o diretor Benedicto Junior, o BJ.

Lana revelou não saber se a Odebrecht fez as primeiras doações em troca de obras nas gestões de prefeito e depois no primeiro mandato de governador de Beto Richa. Mas, com relação a 2014, coube a Benedicto Junior decidir sobre a doação de maior monta: R$ 2,5 milhões, também em caixa 2 para a campanha de reeleição.

Neste caso, o arrecadador era o tesoureiro da campanha, Juraci Barbosa, ex-presidente da Fomento Paraná e secretário do Planejamento de Richa, mantido no cargo por Cida Borghetti. Os contatos, porém, eram feitos pelo amigo e sócio da família Richa Theodócio Atherino, conhecido pelo apelidos de Grego e Rato.

Ao contrário das vezes anteriores, esta doação previa uma contrapartida: o governo, segundo revelou o ex-chefe de Gabinete de Richa, Deonilson Roldo, firmou “compromisso” de garantir à Odebrecht seria a vencedora da licitação para a concessão da PR-323, uma obra de R$ 7 bilhões. A garantia envolveu o trabalho de Deonilson de tentar convencer uma construtora concorrente, a Contern (Grupo Bertin) a não participar da licitação – conforme diálogo gravado pelo executivo da empresa, Pedro Rache.

Foi com base nas delações de Valter Lana e BJ, além da gravação de Deonilson, que o juiz Sergio Moro determinou abertura de inquérito contra Beto Richa e mandou a Polícia Federal e o MPF a aprofundar as investigações

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