Da pólvora ao palco digital, Teatro do Paiol completa 50 anos

Um show com Vinícius de Moraes, Toquinho, Marília Medalha e o Trio Mocotó, no dia 27 de dezembro de 1971, marcou há 50 anos a inauguração do Teatro do Paiol, o espaço cultural mais simbólico da cidade e uma das principais atrações turísticas de Curitiba. A data será comemorada pela Prefeitura e Fundação Cultural de Curitiba com uma programação que vai de janeiro e se estende até dezembro do ano que vem.

O ponto alto das comemorações será durante a 39ª Oficina de Música de Curitiba. O cantor e compositor Toquinho fará uma apresentação no Paiol revivendo os momentos do show realizado há 50 anos.  A apresentação no Paiol no dia 27 de janeiro será restrita ao público convidado, porém haverá reprise do espetáculo no dia 29 de janeiro no grande auditório do Teatro Guaíra.

“Para lembrar daquela noite em que Vinícius de Moraes, Toquinho, Marília Medalha e o Trio Mocotó começaram a explodir o paiol de pólvora transformando a cultura em nossa cidade, teremos todos os dias 27, durante todo o ano de 2022, uma noite de música no Teatro do Paiol”, disse o prefeito Rafael Greca.

Depois, ao longo do ano, haverá um show por mês com um artista convidado especial. Quatro shows serão realizados com os grupos do Conservatório de Música Popular Brasileira – Orquestra À Base de Corda, Orquestra À Base de Sopro, Coral Brasileirinho e Vocal Brasileirão – e os demais com grupos selecionados por meio de edital do Fundo Municipal de Cultura.

 Shows antológicos

O Paiol faz parte de uma era de transformações. A criatividade pulsava nas pranchetas dos arquitetos e urbanistas que acompanharam Jaime Lerner na tarefa de promover uma verdadeira revolução urbana na cidade de Curitiba, nos primeiros anos da década de 1970. Coube ao arquiteto Abraão Assad projetar um teatro de arena nas antigas instalações de um paiol de pólvora do bairro Prado Velho.

O desafio foi proposto logo nos primeiros dias da gestão do então prefeito Jaime Lerner. Sua execução levou quase um ano e, diante daquela inovação de transformar edificações antigas em equipamentos culturais, era necessário propor uma inauguração à altura. Foi então que surgiu a ideia de convidar Vinícius de Moraes. Apesar do período pouco propício, entre duas datas festivas, ele concordou, propondo a realização do show com Toquinho, Marília Medalha e o Trio Mocotó, com quem estava realizando turnês por outras capitais.

O show antológico deu início a uma longa trajetória deste espaço cultural que, nessas cinco décadas, recebeu um incontável número de shows, espetáculos teatrais, encontros, debates e discussões, sempre com foco na arte e na criatividade.

Nos primeiros anos, artistas locais e grandes nomes da música brasileira dividiram o espaço. O público compareceu para ver músicos, compositores e grupos curitibanos que despontaram na época: João Gilberto Tatara, Regina Laffite e Gerson Fisbein, Marinho Galera e Paulo César Botas, Paulo Vítola, Paulo Leminski, Rosi Greca, Helinho Brandão, Nhá Gabriela, Lápis, As Nymphas, Aquarius Band, Blindagem, Grupo Ogum e grupo Rosa Branca.

Entre os artistas de expressão nacional, passaram pelo palco do Paiol o Zimbo Trio, Araci de Almeida, grupo MPB-4, Carlos Lyra, Clara Nunes, Hermeto Paschoal, Nara Leão, Paulinho da Viola, Wagner Tiso, Naná Vasconcelos, Raul Seixas, Gal Costa, Altamiro Carrilho, Paulo Tapajós, Quarteto em Cy, Fafá de Belém, Jorge Mautner, Paulinho Nogueira, Gonzaguinha, Edu Lobo, Zezé Motta, Leci Brandão, Ivan Lins, Joyce,  Djavan, João Bosco, Zizi Possi, Lula Santos, Egberto Gismonti, Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Adriana Calcanhoto, Francis Hime, Leny Andrade e muitos outros.

Parcerias impossíveis

Logo no começo, além de ser palco para a música e para o teatro, o Paiol também agregou a comunidade artística de Curitiba, que passou a se reunir e debater os rumos da cultura curitibana. Ali surgiu em 1973 o MAPA, Movimento Atuação Paiol, com o objetivo de mostrar a qualidade da produção musical curitibana e valorizar os compositores da cidade.

Um dos projetos mais inovadores e interessantes do Teatro do Paiol foram as “Parcerias Impossíveis”, encontros quinzenais de personalidades de diferentes áreas e de opiniões contrárias. Compartilhando o mesmo banco e em sintonia com a plateia, os convidados dialogavam sobre temas da atualidade, que remetiam ao momento político vivido pelo país. A primeira parceria, no dia 9 de julho de 1979, foi entre o jornalista João Saldanha e o músico Paulinho Nogueira.

Ao longo dos quatro anos do projeto, o Paiol abrigou várias parcerias impossíveis: Luiz Inácio Lula da Silva e Maurício Tapajós, Newton Freire e Joãozinho Trinta, Odete Lara e Darcy Ribeiro, Leci Brandão e Aguinaldo Silva, Tizuka Yamasaki e Jards Macalé, Elke Maravilha e Filomena Gebran, Toquinho e Armando Marques, Zé Celso Martinez e Lúcio Alves, Cacique Juruna e Zelito Viana, Clodovil e Zezé Motta, Carmem Junqueira e Paulo Autran, Lucinha Lins e Carlos Novaes, Villas-Boas Corrêa e  Sérgio Cabral, João do Valle e Roberto D’Ávila, Francisco Paulo Caruso e Ignácio Loyola Brandão, Egberto Gismonti e Edilson Martins, entre outras.

Reformas

Nessas cinco décadas, o Paiol também passou por períodos de reformas. As mais significativas foram as realizadas em 2005, 2010 e 2018. Após obras de melhorias, de setembro a dezembro de 2005, o teatro foi reinaugurado em 2006 também com um show de Toquinho. Naquele ano teve início o programa Paiol Literário, idealizado pelo jornal Rascunho, que levou para o teatro importantes nomes da literatura nacional. Ignácio de Loyola Brandão, Affonso Romano de Sant’Anna, José Midlin, Luiz Ruffato, João Ubaldo Ribeiro, Ana Maria Machado, Cristovão Tezza, Ruy Castro, Miguel Sanches Neto, Rubens Figueiredo, Luci Collin, Marina Colasanti foram alguns deles.

De julho a setembro de 2010, o Paiol passou por outra importante reforma, com a recuperação estrutural do telhado, entre outras obras de manutenção, além da substituição das poltronas da plateia. O Paiol ganhou do Grupo Boticário cadeiras com design exclusivo, em madeira, criadas pelo arquiteto e designer Sérgio Rodrigues.

Em 2018, mais uma reforma foi concluída por meio do Programa de Revitalização e Modernização dos Espaços Culturais, já na segunda gestão do prefeito Rafael Greca. Foram feitas principalmente as obras de acessibilidade e a iluminação cênica da fachada. Esta reforma contou com a consultoria técnica do arquiteto Abrão Assad. Um show de João Bosco marcou a reabertura do teatro.

Palco digital

Ao longo de sua história, o Teatro do Paiol adaptou o seu perfil às mudanças do cenário cultural da cidade. O crescimento da população, o surgimento de novos espaços públicos e particulares, uma demanda cada vez maior e diversificada por produtos culturais, fez com que o Paiol consolidasse o seu perfil como espaço para aqueles que buscam shows mais intimistas. Uma de suas características sempre foi preservada – a de valorizar a música popular brasileira.

A programação, além de atender as demandas por agendamento, sempre foram definidas pela Fundação Cultural de Curitiba, e principalmente com a proposta de valorizar artistas e grupos curitibanos. Dessa forma, surgiram programas como o Terça Brasileira e o Paiol Musical, cujos shows são definidos por meio de editais de fomento da produção cultural.

Mais recentemente e mostrando sua adaptação aos novos tempos, o Teatro do Paiol passou a ser o palco do programa Paiol Digital, desenvolvido pela Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, com o apoio da Fundação Cultural de Curitiba. Desde 2018 edições mensais reúnem pessoas conectadas ao mundo do empreendedorismo, da inovação e das novas tecnologias. O objetivo é propiciar networking e fomentar ações voltadas ao desenvolvimento da cidade.

“Do presencial ao digital, o Paiol continua sendo um símbolo da nossa identidade e da nossa capacidade de inovar. Continuará sendo palco permanente da arte musical e de todas as outras formas de expressão que procuram proximidade, interatividade e conexão com o público”, destaca a presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro.

Durante a pandemia de covid-19, desde março de 2020, assim como todos os espaços culturais o Teatro do Paiol também suspendeu suas atividades com público presencial. Programas como o Paiol Literário e o Paiol Digital foram transferidos para os meios virtuais e assim têm se mantido até agora. Com a diminuição dos casos da doença e o relaxamento das restrições sanitárias, alguns espetáculos e o próprio Paiol Digital passaram a ser gravados no palco do teatro e transmitidos nas redes sociais da Prefeitura e da Fundação Cultural de Curitiba e também no Coreto Digital do Passeio Público. (SMCS).

 

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