Vereadores de Curitiba criticam invasão de igreja em protesto contra racismo

Durante a sessão plenária desta segunda-feira (7), 15 vereadores da Câmara Municipal de Curitiba (CMC) declararam solidariedade aos católicos da capital do Paraná, após uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ser interrompida, no último sábado (5), por pessoas que protestavam contra o racismo no Brasil. Entre os manifestantes, estava o vereador Renato Freitas (PT). Em nota oficial da Arquidiocese de Curitiba, lida em plenário pelo presidente da CMC, Tico Kuzma (Pros), dom José Peruzzo lamentou o ocorrido, afirmando que “a posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa”.

“Repudiamos qualquer ato de violência e  atos discriminatórios, em quaisquer de suas formas, entendendo legítimas as manifestações pacíficas que visem a proteção dos direitos de todos os cidadãos. Da mesma forma, esta Casa não compactua com quaisquer violações às liberdades religiosas e locais de culto, na medida em que se trata de um preceito fundamental para se configurar um estado democrático”, declarou o presidente do Legislativo. Kuzma concluiu dizendo que a CMC “não se furtará em apurar quaisquer fatos postos à apreciação, com a devida isenção e orientada pelos limites impostos pela Constituição”.

A maior parte dos vereadores que se manifestou em plenário criticou Renato Freitas pela invasão da igreja, por verem no ato uma ameaça à liberdade de culto. Membros da bancada evangélica lembraram que o parlamentar já foi denunciado ao Conselho de Ética da CMC, após chamar pastores de “trambiqueiros”, e que o caso foi arquivado. Em geral, os parlamentares separaram a realização do protesto pelos assassinatos do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho, no Rio de Janeiro, que consideram legítimos, da invasão à Igreja do Rosário.

Justificativa – “Foi escolhida [para a manifestação] a Igreja dos Pretos, construída pelos pretos e para os pretos, justamente porque na igreja central, na Matriz, os negros eram proibidos de entrar. Uma Igreja dos Pretos que, embora tenha esse nome, é cuidada pelos brancos. Lá estivemos às 18h e não atrapalhamos nenhuma missa. As filmagens mostram que a igreja estava absolutamente vazia. Entramos e dissemos que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida. Lá dentro, afirmamos isso, e saímos ordeira e pacificamente, e eu desafio a qualquer um provar o contrário”, defendeu-se, em plenário Renato Freitas.
Ao falar sobre a manifestação, o vereador citou as duas vítimas da violência no Rio de Janeiro, cujos casos repercutiram na mídia na última semana. “Moïse morreu porque era negro, em primeiro lugar. Durval morreu porque era negro, em primeiro lugar. Moïse, porque era um negro estrangeiro, africano, que foi tratado como subcidadão em um país com uma história de 350 anos de escravidão. Durval, porque, pelo retrovisor do carro, o sargento da Marinha, armado, apoiador do presidente Bolsonaro, deu três tiros, inadvertidamente, sem saber o que ocorria, e matou o vizinho”, disse Freitas.

Reclamação – “Respeitei a decisão do Conselho de Ética sobre o vereador Renato [arquivamento do caso das ofensas a evangélicos], mas venho alertando desde 2021 que fomos atacados como cristãos. Invadir uma igreja e perturbar a fé de pessoas que se preparavam para uma missa, com um ato de cunho político, é um crime para detenção. Se entra na minha igreja, eu chamava a polícia e mandava prender”, disse Osias Moraes (Republicanos), primeiro a tratar do assunto em plenário, logo no início da sessão. Ele reclamou que, por conta do ato de Freitas, a Câmara de Curitiba tem sido “achincalhada”.

Para Ezequias Barros (PMB), o que aconteceu no sábado foi “inadmissível”. “O vereador ultrapassou os limites da lei. O local de culto é inviolável. A situação nos deixou boquiabertos. No ano passado, fomos chamados de trambiqueiros e ficou por isso mesmo. E agora, o que o Conselho de Ética irá fazer? Vão passar a mão na cabeça do vereador? É inacreditável a postura do vereador do PT”, afirmou. Na sequência, Barros defendeu a atuação política dos cristãos, pois entende que sem isso a liberdade de culto está ameaçada. “Nós iremos falar de política, para poder falar de Jesus”.

Marciano Alves (Republicanos) classificou o ocorrido como “cristofobia” e disse que se “hoje foi [invadida] uma igreja católica, amanhã será a evangélica”. Oscalino do Povo (PP) defendeu que, pela repercussão do caso, ele deve ter chegado até o Papa Francisco, no Vaticano. “Nesse fim de semana mataram uma policial negra em São Paulo e eu não vi nenhuma manifestação. Somos contra qualquer tipo de violência.  [A invasão] está bombando nas redes sociais, está feio para nós”, reclamou a vereadora Sargento Tânia Guerreiro (PSL).

Violência – “Foi uma violência política o que aconteceu lá. Não havia motivo para aquilo ter acontecido. Temos que dar um basta nas ações extremadas, tanto da direita, quanto da esquerda”, afirmou Mauro Ignácio (DEM). Beto Moraes (PSD) e Noemia Rocha (MDB) se somaram às críticas à invasão da Igreja do Rosário, assim como Alexandre Leprevost (Solidariedade) declarou sua solidariedade à comunidade católica de Curitiba. Denian Couto (Pode) destacou o trecho da nota da Arquidiocese de Curitiba em que ela chama o comportamento dos manifestantes de “invasivos, desrespeitosos e grotescos”.

“Pelo cargo relevante que ocupa, a responsabilidade dele é bem maior. O Renato podia ter a grandeza de chegar aqui e falar que cometeu um erro. Mas, não, chega tentando justificar. O ser humano tem que aprender a recuar, pois não é feio ter humildade. Isso vai fechando portas”, lamentou Mauro Bobato (Pode). “A esquerda quer acabar com a liberdade de culto e esse vereador passou de todos os limites”, defendeu Eder Borges (PSD), dizendo que tomaria providências sobre o caso na CMC.

A fala de Borges foi criticada por Dalton Borba (PDT), que pediu ao parlamentar que se retratasse pela generalização. “Não se pode resumir a esquerda brasileira ao PT. Foi um ato praticado pelo Renato, polêmico, com o repúdio da sociedade, mas que deve ser tratado de forma séria, e não de forma politiqueira”. Herivelto Oliveira (Cidadania) destacou que o ato contra o racismo era legítimo, “mas entrar na igreja na hora do culto passou do limite”.

 

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