Boa parte da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro já está formada. Como anunciou, o critério de escolha não obedeceu a acordos com partidos políticos. Alguns foram indicações pessoais do próprio Bolsonaro, outros foram escolhidos pelos ministros do primeiro time – Paulo Guedes, Onix Lorenzoni e Sergio Moro – que ganharam carta branca para formar suas próprias equipes. Há ainda os que foram nomeados porque agradam aos influentes militares que assessoram o futuro presidente ou porque atendem aos princípios defendidos pelas bancadas ruralista, evangélica e defensores de rigor no combate ao crime.
Abaixo, em ordem alfabética, biografias de cada um dos futuros ministros e membros do primeiro escalão, segundo levantamento básico elaborado pela BBC:
André Luiz de Almeida Mendonça (AGU)
Nomeado o novo Advogado Geral da União. Mendonça já trabalhou na AGU, onde foi Corregedor-Geral, Adjunto do Procurador-Geral da União e Diretor do Departamento de Patrimônio e Probidade, Coordenador de Medidas Disciplinares, Vice-Diretor da Escola da AGU e Procurador-Seccional da União em Londrina. Atualmente é assessor especial da Controladoria Geral da União (CGU), responsável por coordenar as comissões de negociação dos acordos de leniência no âmbito da CGU.
Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional)
O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro quase foi candidato a vice-presidente de Bolsonaro no lugar do general Hamilton Mourão, mas a intenção acabou frustrada por contrariar a estratégia eleitoral do seu partido, o PRP. Em entrevista ao Jornal Nacional logo após o primeiro turno, Bolsonaro chegou a se referir duas vezes ao seu vice erroneamente como “Augusto”. Heleno, que é general de quatro estrelas (general de Exército, no topo da hierarquia), deve assumir o comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), substituindo o general Sérgio Etchegoyen. É apontado como conselheiro de Bolsonaro na área de segurança e, assim como ele, defende que os policiais tenham poder para executar criminosos armados. “Eu vou ter morto sim, mas vou ter morto do lado certo”, afirmou em entrevista a rádio BandNews no início do ano.
Carlos von Doellinger (Ipea)
O economista Carlos von Doellinger foi indicado por Paulo Guedes para presidir o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pesquisador aposentado da instituição e economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), von Doellinger foi secretário do Tesouro Nacional, presidiu o Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj) e já integra a equipe econômica de transição do futuro governo. O instituto tem a função de dar suporte técnico ao governo para a formulação e de políticas públicas e programas de desenvolvimento.
Érika Marena (DRCI)
A delegada federal Érika Mialik Marena assume o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, área responsável pela cooperação com outros países em questões penais. Atualmente é Superintendente da Polícia Federal em Sergipe. Marena teve papel importante no início da Lava Jato e foi responsável por cunhar o nome da operação. Mais recentemente, comandou a operação Ouvidos Moucos, que prendeu o então reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, por suspeita de corrupção. O então reitor, que se dizia inocente, se matou. Mais tarde, reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que o relatório final da PF não apresentou provas de que Cancellier tenha se beneficiado do suposto esquema de desvio de verbas.
Ernesto Araújo (Relações Exteriores)
O embaixador de 51 anos é atualmente diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos. O embaixador tem um blog onde expõe suas opiniões contra o PT e elogios a Jair Bolsonaro. Na descrição de si mesmo, escreveu: “Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. É um sistema anti-humano e anti-cristão”. No mesmo blog, escreveu que a causa ambiental foi “pervertida” pela esquerda. Em artigo intitulado “Trump e o Ocidente”, publicado na revista de Política Externa do Itamaraty, elogia Donald Trump, que compara a Ronald Reagan e Winston Churchill.
Fernando Azevedo e Silva (Defesa)
O futuro ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro é general da reserva e foi assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Foi chefe do Estado-Maior do Exército e esteve à frente da Autoridade Pública Olímpica durante o governo de Dilma Rousseff. Azevedo e Silva também foi chefe da assessoria parlamentar do Comando do Exército de 2003 a 2004. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Azevedo e Silva disse que as Forças Armadas estão “vacinadas” em relação à política. “Estamos muito vocacionados para nossa atividade-fim, que é cumprir o Artigo 142 [defesa da Pátria, garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem].”
Joaquim Levy (BNDES)
O futuro presidente do BNDES foi nomeado ministro da Fazenda por Dilma Rousseff para seu segundo mandato e anunciado pouco depois de a presidente se reeleger. O cargo era ocupado até então por Guido Mantega. Levy administrava na época um dos braços do banco Bradesco, o Bradesco Asset Management, e teria sido escolhido depois de o então presidente da instituição, Luiz Carlos Trabuco, ter declinado o convite para o mesmo cargo. Ex-aluno do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, ele é visto como um adepto do liberalismo econômico, que prega uma menor intervenção do Estado na economia, filosofia criticada por Mantega. Levy assumiu o ministério de Dilma com a missão de recuperar o quadro econômico do País, quando a inflação rondava o teto de 6,5% estabelecido pelo Banco Central, a economia estava quase estagnada e o governo já admitia que não deveria atingir as metas fiscais. Doze meses depois, a situação havia piorado, e a economia enfrentava sua pior recessão desde os anos 1990, com um desemprego crescente, inflação de cerca de 10% e uma retração de 3,8% do PIB, o pior resultado em 25 anos.
Luiz Mandetta (Ministério da Saúde)
O deputado do DEM do Mato Grosso do Sul é ortopedista e foi secretário de Saúde em Campo Grande entre 2005 e 2010, quando saiu para candidatar-se a deputado federal, cargo que ocupa desde então. Desistiu de concorrer à reeleição em 2018. Médico pediatra, disse em 2013 que a vinda de cubanos para o Mais Médicos era um “navio negreiro do século 21”. Sul-matogrossense da capital Campo Grande, Mandetta, em 2010, candidatou-se para seu primeiro cargo público, o de deputado federal. Foi eleito com 78,7 mil votos. Já no primeiro ano de mandato foi escolhido por seus pares como presidente da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), uma das mais importantes da Câmara. Em 2014, reelegeu-se deputado federal com 57,3 mil votos. Naquele ano, o deputado recebeu uma doação de R$ 100 mil da Amil, uma operadora de planos de saúde – o valor representa menos de 5% dos R$ 2,1 milhões que ele declarou ter arrecadado naquele ano. Por conta de seu trabalho como secretário de Saúde de Campo Grande, Mandetta responde a um inquérito que investiga suposta fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois.
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)
O engenheiro e astronauta Marcos Pontes chegou a ser cotado para vice-presidente de Bolsonaro – cargo que acabou ficando com o general Hamilton Mourão. Em um vídeo publicado em seu canal no YouTube em abril de 2017, Bolsonaro o apresenta como “colega da Aeronáutica, colega astronauta e motivo de orgulho para o Brasil, que também esteve na Nasa” – e “chegou lá por mérito”. Em 2006, a missão espacial da qual Marcos Pontes participou, ligada à Estação Espacial Internacional, custou ao Brasil US$ 10 milhões, gerando questionamentos de parte dos pesquisadores sobre o valor científico para o país. A saída de Pontes à reserva militar, meses depois, para se dedicar a dar consultorias e palestras e se envolver na política, também despertou críticas. Bolsonaro teceu elogios ao astronauta em carta à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e à Academia Brasileira de Ciências (ABC). O texto apresenta propostas à comunidade científica e acadêmica e reforça que o “engenheiro, que também é astronauta, foi escolhido” (para as funções que já ocupou) por meritocracia e não por “toma lá da cá”.
Maurício Valeixo (Polícia Federal)
Escolhido pelo futuro ministro da Justiça Sergio Moro, o delegado é o atual Superintendente da Polícia Federal no Paraná. Foi Diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado de 2015 a 2017. Antes disso, passou dois anos como adido policial na embaixada brasileira em Washington, nos Estados Unidos. Foi responsável pela operação que prendeu o ex-presidente Lula. Também foi na sua gestão que foi fechada a delação premiada de Antônio Palocci com a PF. A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) divulgou nota felicitando o delegado Maurício Leite Valeixo pela indicação. “Valeixo possui sólida carreira no órgão e reúne todas as condições necessárias à condução da corporação para as missões que se vislumbram, com integração e aproveitamento de todas as virtudes dos servidores, focando na atuação republicana da instituição, livre de interferências políticas e garantindo a autonomia das atividades de investigação e da produção de provas.”
Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
Um dos mais ferrenhos opositores ao PT na Câmara dos Deputados e apoiador de primeira hora da candidatura de Bolsonaro, o deputado federal reeleito Lorenzoni deve ocupar o cargo de ministro-chefe da Casa Civil no novo governo. Contrariando a orientação do seu partido, que no primeiro turno apoiou a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), o parlamentar gaúcho é articulador da campanha do presidente eleito desde 2017. Há cerca de um ano, começou a realizar jantares em sua casa em Brasília a fim de atrair outros parlamentares e construir uma frente suprapartidária de apoio ao capitão reformado. Lorenzoni, de 64 anos, é médico veterinário e iniciou sua atuação política como dirigente de entidades da categoria no Rio Grande do Sul. Ele é sócio do Hospital Veterinário Lorenzoni onde, por mais de 20 anos, atuou como clínico e cirurgião de pequenos animais. No final de 2016, ganhou destaque como relator do projeto de lei elaborado pelo Ministério Público que ficou conhecido como Dez Medidas Contra a Corrupção. À sua revelia, a proposta acabou desfigurada no texto final aprovado na Câmara e, depois, empacou no Senado.
Paulo Guedes (Economia)
O economista liberal Guedes – que ficou conhecido na campanha como “Posto Ipiranga” por ser a referência para qualquer questão econômica levada a Bolsonaro – deve assumir um super-Ministério da Fazenda, previsto para incorporar também as pastas do Planejamento, da Indústria e Comércio, além da secretaria que hoje cuida de concessões e privatizações. A fusão faz parte da promessa de reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Guedes é um fervoroso defensor da redução do tamanho do Estado e promete zerar o rombo das contas da União de mais de R$ 100 bilhões em apenas um ano, com ajuda de um amplo programa de privatizações. O economista já declarou que gostaria de vender todas as estatais, sem restrições, mas Bolsonaro quer preservar as que considera “estratégicas”, como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica. “Mais Brasil e menos Brasília”, resumiu em artigo do ano passado, com críticas à “concentração de poder político e recursos financeiros no governo federal”.
Ricardo Vélez Rodríguez (Educação)
O presidente eleito Jair Bolsonaro anunciou no Twitter que o novo ministro da Educação será o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo e professor emérito da Escola de Comando e estado Maior do Exército. Seu currículo acadêmico na plataforma Lattes diz que o futuro ministro tem graduação em filosofia pela Universidade Pontifícia Javeriana (1964), graduação em teologia pelo Seminário Conciliar de Bogotá (1967), mestrado em filosofia pela PUC-Rio (1974), doutorado em filosofia pela Universidade Gama Filho (1982) e pós-doutorado pelo Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron, Paris. Em um blog de sua autoria, Rodríguez diz ter sido indicado pelo filósofo de direita Olavo de Carvalho. “Aceitei a indicação movido unicamente por um motivo: tornar realidade, no terreno do MEC, a proposta de governo externada pelo candidato Jair Bolsonaro, de ‘Mais Brasil, menos Brasília’.” Diz ainda que, nos último anos, os brasileiros viveram “reféns de um sistema de ensino alheio às suas vidas e afinado com a tentativa de impor, à sociedade, uma doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista, travestida de ‘revolução cultural gramsciana’, com toda a coorte de invenções deletérias em matéria pedagógica como a educação de gênero, a dialética do ‘nós contra eles’ e uma reescrita da história em função dos interesses dos denominados ‘intelectuais orgânicos’, destinada a desmontar os valores tradicionais da nossa sociedade, no que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo”.
Roberto Campos Neto (Banco Central)
O indicado é neto de Roberto Campos (1917-2001), importante economista liberal que foi ministro durante a ditadura militar. Tem 49 anos e é diretor do banco Santander, responsável pela tesouraria. É especialista em finanças pela Universidade da Califórnia. Seu nome será levado ao Senado, que tem a atribuição de aprovar a indicação. Trabalhou no Banco Bozano Simonsen de 1996 a 1999. De 2000 a 2003, trabalhou como chefe da área de Renda Fixa Internacional no Santander Brasil. Em 2004, ocupou a posição de Gerente de Carteiras na Claritas. Voltou ao Santander Brasil em 2005 como Operador e em 2006 foi Chefe do Setor de Trading. Em 2010, passou a ser responsável pela área de Proprietária de Tesouraria e Formador de Mercado Regional & Internacional. O Banco Central é o responsável, entre outras atribuições, pelo controle da inflação no País. Cabe a ele conduzir as políticas monetária, cambial, de crédito, e de relações financeiras com o exterior; a regulação e da supervisão do Sistema Financeiro Nacional; a administração do Sistema de Pagamentos Brasileiro e os serviços do meio circulante.
Roberto Castello Branco (Petrobras)
Roberto Castello Branco foi indicado pelo futuro ministro Paulo Guedes. Atualmente é diretor no Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da Fundação Getúlio Vargas. É doutor em economia pela FGV e tem pós-doutorado pela Universidade de Chicago. Foi Professor da FGV, presidente executivo do Ibmec, diretor do Banco Central, diretor executivo de instituições financeiras e diretor e economista chefe da Vale S.A. Fez parte do Conselho de Administração da Petrobras e desenvolveu projetos de pesquisa na área de petróleo e gás. Segundo seu currículo no site da FGV, também participou de conselhos de entidades de classe ligadas ao mercado de capitais, mineração, comércio internacional e investimento direto estrangeiro, e membro do Conselho Curador da Fundação Getulio Vargas.
Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública)
O juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba era responsável pelo julgamento dos processos da Operação Lava Jato até aceitar o convite de Jair Bolsonaro para o governo. Um dia após ser eleito, Bolsonaro disse que gostaria de ter Moro no Ministério da Justiça ou de indicá-lo para o Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Moro, o que o fez aceitar se desligar do Judiciário e virar ministro foi a “a perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado” no Executivo. Em suas primeiras declarações após aceitar o convite de Bolsonaro, Moro indicou que sua primeira medida será encaminhar ao Congresso, já no início de 2019, um pacote de propostas de novas leis anticorrupção.
Tereza Cristina (Agricultura)
A futura ministra da Agricultura é voz forte da Frente Parlamentar da Agropecuária, conhecida como bancada ruralista, da Câmara. É deputada federal pelo DEM do Mato Grosso do Sul e começou seu primeiro mandato em 2015. É engenheira agrônoma e teve cargos em governos do seu estado. Defendeu a PEC 125, que propunha uma mudança na Constituição para tirar da União e passar para o Congresso a competência para demarcar terras indígenas. O projeto não avançou. Presidiu a comissão onde foi aprovado o projeto de lei batizado pela oposição de “PL do Veneno”, que tramita na Câmara. O projeto dá mais poderes ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para realizar a avaliação toxicológica das substâncias e aprovação do seu uso, diminuindo as competências de controle e fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no processo.
Wagner do Rosário (CGU)
Rosário segue como ministro da Transparência e Controladoria-Geral da União, cargo que ocupa desde 13 de junho de 2018. Funcionário de carreira da CGU e militar, é formado em Ciências Militares pela Academia das Agulhas Negras e mestre em Combate à Corrupção e Estado de Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Também já atuou como Oficial do Exército. É auditor Federal de Finanças e Controle desde 2009. No órgão, trabalhou em área responsável por investigações conjuntas de combate à corrupção, em articulação com a Polícia Federal, ministérios públicos (Federal e Estadual) e demais órgãos de defesa do Estado.
Parabéns presidente Bolsonaro.
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