(por Ruth Bolognese) – Depois do Unabomber Tony Garcia, aguardam-se para breve as delações de dois personagens importantes do governo Beto Richa: um oficial, conhecido como “governador de fato”, jornalista Deonilson Roldo, ex-chefe de Gabinete, e o outro sócio semi-clandestino, empresário Jorge Atherino, também conhecido como “Grego”. Ambos estão presos na Polícia Federal e tem muito a dizer.
Existe até uma bolsa de apostas informal nos meios políticos sobre qual dos dois inaugura o período de contar tudo o que sabe. O advogado Figueiredo Basto, cujo escritório curitibano é um dos maiores especialistas em delações do País – negociou e orientou delações na Lava Jato – disse que não aceitaria trabalhar para Deonilson Roldo porque já advogou para o ex-governador Beto Richa, é amigo pessoal dele e já foi até nomeado para um cargo de conselheiro da Sanepar. Além de ter advogado, também trabalhou para outros tucanos paranaenses. A declaração de Figueiredo Basto é meio caminho andado para quem acredita que Deonilson vai delatar em breve.
Um outro escritório de advocacia da capital, Tracy Ronaldet, o mesmo que negociou a delação-relâmpago do ex-diretor Nelson Leal Jr, também teria sido sondado. Como se sabe, a delação de Leal Jr foi o que abriu caminho para a prisão do ex-governador Beto Richa e seu grupo, na semana passada, ao desvendar o esquema do programa “Patrulhas no Campos”, do primeiro governo.
A delação premiada, dizem os especialistas, é sempre uma decisão de foro íntimo, delicada e emocional. É um passo definitivo que se toma contra o amigo mais próximo, com quem se dividiu decisões cruciais e comprometedoras. Nas quadrilhas da bandidagem, quem delata não sobrevive. Na política, o delator desiste da carreira, do próprio grupo e da vida pregressa.
Ao contrário de Jorge Atherino, cuja aproximação Richa se deu desde um estágio de emprego e, mais tarde, em negócios e sociedades conjuntas, o caso de Deonilson Roldo é mais complicado. Ele e Beto Richa têm mais de 20 anos de convivência, relação de confiança mútua, grandes vitórias eleitorais, 4 gestões públicas, 2 na prefeitura e 2 no governo do Estado.
Na recente entrevista que deu para a Gazeta do Povo, como candidato ao Senado, o ex-governador Beto Richa disse que havia dado 20 dias para Deonilson Roldo explicar a gravação comprometedora com um executivo da construção civil, onde foi revelada a interferência do governo para que a Odebrecht “ganhasse” a licitação para duplicar a PR-323, a maior obra rodoviária da gestão.
Era apenas uma ilação. Naquele momento, “Déo”, como é conhecido, estava trabalhando a todo vapor e comandando a campanha eleitoral para Beto Richa na disputa para o Senado. Unha e carne, Beto e Déo até ontem estavam juntos em mais uma empreitada. A questão é essa: como delatar? E o que sobrará depois?