Profecia de Ulysses: o Congresso só piora

Houve tempo em que o Congresso Nacional era habitado por figuras como Mário Covas, Fernando Lyra, Luís Eduardo Magalhães, Ricardo Fiúza, Maurício Correa, Roberto Campos, Miguel Arraes, Paes de Andrade, José Genoíno, José Dirceu, Ibsen Pinheiro, Pedro Simon, Nelson Jobim, Roberto Magalhães, Delfim Netto, Marco Maciel, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, Sigmaringa Seixas… Todos juntos nos anos 1980/90.

Mas tinha gente que reclamava da baixa qualidade do parlamento brasileiro. O presidente da Câmara Federal era ninguém menos que Ulysses Guimarães, o “senhor Constituição”. Questionando sobre a incapacidade de o Congresso produzir mudanças, Ulysses respondeu:

— Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior, e pior…

Além do respeito que sua figura evocava, da liderança que ia para muito além das fronteiras do seu PMDB, da força moral com que lutou contra a ditadura, Ulysses tinha também o dom da profecia. De lá para cá, o Congresso foi se tornando, uma legislatura após a outra, “pior, e pior…”

Claro que o Congresso nunca se livrou de ter lá figuras bizarras. Já foi presidido, por exemplo, por um Severino Cavalcanti, temos ainda Tiririca, houve e há um monte de parlamentares que pensa apenas em seu umbigos, em conseguir vantagens pessoais ou grupais, em fazer “o bem” para seus pequenos currais e paróquias, que vendem suas “convicções” por emendas orçamentárias e carguinhos…

Não poucos chegam lá sem votos, beneficiados pelas regras eleitorais que os beneficiam com votações expressivas de uns poucos vem votados de partidos e coligações. Como aconteceu, por exemplo, quando o folclórico (porém culto) Dr. Eneas puxou uma boa bancada de sem-votos. Ou Tiririca, que, com seu milhão de votos, transformou em deputados candidatos que mal conseguiram 500 votos.

Repete-se este ano, com ainda mais vigor, o mesmo fenômeno resultado do “efeito Bolsonaro”. Militares e figuras populistas nascidas em programas de rádio e televisão, muito bem votados em seus redutos, transformaram a esquálida bancada do PSL, que tinha apenas 9 deputados, numa força de 52 parlamentares – a terceira maior da Câmara Federal.

E daí vêm produtos como o representado pela jornalista Joice Hasselman – uma paranaense de Ponta Grossa que se notabilizou em Curitiba em programas de rádio nos quais distribuía “sapatadas” em políticos – que, embalada pela fama e pela ligação à ideologia de Jair Bolsonaro, fez mais de 1 milhão de votos em São Paulo.

Quando se recorda que o Congresso já teve Ulysses Guimarães, Roberto Campos, Mario Covas, José Richa e tantos outros do porte destes estadistas, chega a dar tristeza ver entre os representantes da população parlamentares que se prestam a fazer encenações com as vistas neste vídeo:

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