Embora os casos de morte por febre amarela sigam subindo desde o começo de 2017 e tenham atingido o número de 93 vítimas no último dia 23, milhões de doses da vacina fracionada continuam dentro dos refrigeradores dos postos de saúde, à espera da população.
Em São Paulo, a situação passou de uma corrida desenfreada aos locais de vacinação para o encalhe de doses.
A falta de público interessado provocou o adiamento do fim da campanha de vacinação do dia 17 de fevereiro para o dia 2 de março. No entanto, a dois dias do término do prazo estendido, 5,1 milhões de pessoas não foram vacinadas em 54 cidades abrangidas pela campanha. A proposta é imunizar 9,2 milhões nesses locais.
No início, as pessoas saíam de áreas não visadas pelo vírus para se sujeitar a pegá-lo nas filas das regiões em que havia casos; agora sobram doses nos postos, informa o Centro de Vigilância Epidemiológica da secretaria de Saúde de São Paulo.
Se a doença em si assustou em um primeiro momento, a população parece agora mais preocupada com eventos adversos da vacina. Um dos sinais disso são postagens que pipocam nas redes sociais atribuindo ao produto complicações as mais variadas possíveis: “Tem gente que está perdendo filho na barriga por conta de ter tomado a vacina”, “Vacina causa outras doenças no futuro, como câncer”, “Vacina é armadilha”, “60 médicos americanos dizem ao mundo não tomem o veneno da vacina da morte da febre amarela”.
Lembra a “revolta da vacina”, de 1904 (veja ilustração da época), quando da primeira campanha de vacinação obrigatória foi colocada em prática para combater a varíola. Embora seu objetivo fosse positivo, ela foi aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam aqueles que se recusavam, a força. Nesta época, grande parte da população não sabia o que era vacina e tinham medo de seus efeitos.