Política: mudar para sobreviver

O jornal O Globo analisa do desgaste provocado pela crise política:

BRASÍLIA — A crise política tem um consenso: o desgaste dos partidos chegou a um nível tão agudo que é preciso mudar para sobreviver às eleições de 2018. O grau concreto de renovação das legendas, porém, é discutível. O discurso generalizado é de correção de rumos, mas a prática é de manutenção de velhos hábitos.

Um sinal amplo desse cenário foi dado na última semana, quando a definição dos pontos prioritários da reforma política, que deveria ter como objetivo evitar a repetição dos piores vícios da democracia brasileira, ocorreu em um jantar de 20 parlamentares, 15 deles investigados da Lava-jato. O dilema entre o apego às velhas práticas e a tentativa de dar uma resposta ao apelo popular por renovação atingiu em cheio os principais partidos.

O PSDB fala em refundação, mas saiu fraturado da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer e agora caminha claudicante, como fosse dois partidos: um grupo, que tem à frente o presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), ainda não desistiu de pregar o desembarque do governo e projeta mudanças estruturais na legenda. O outro, comandado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), pede cautela. Na votação da denúncia contra Temer, prevaleceu a ala que defende a permanência no governo.

— Metade da bancada é muito conservadora, apegada ao poder e a práticas fisiológicas. Se o PSDB não se reencontrar, explode. Vai acabar se confundindo com o PMDB. Aí vai ter gente saindo do partido — diz um integrante da ala anti-Temer.

A confirmação do senador Tasso Jereissati, na semana passada, como presidente da legenda até as eleições internas, previstas para dezembro, deu um fôlego aos tucanos que querem reforma. Quem votou pela continuidade da investigação contra Temer perdeu a batalha na Câmara, mas ganhou adeptos nas redes sociais.

— O desgaste da classe política está enorme, não exclui ninguém. Mas a votação da denúncia foi o mais marcante. Teve reconhecimento na rua, agradecimento — conta o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), que diz ter recebido muitos pedidos de selfie depois de ter votado a favor de que Temer fosse investigado.

— Os cabeças pretas (como são conhecidos tucanos mais jovens e críticos a Temer) são afoitos, acham que podem ter um PSDB para chamar de seu, querem refundar o partido. — prega um tucano do campo oposto, que prefere não se identificar.

Já o PT tenta dar uma guinada à esquerda, com foco na crítica às reformas liberais propostas pelo governo. O partido se reaproximou de movimentos sociais e dos sindicatos, reforçando o discurso de esquerda. No entanto, continua exaltando condenados no mensalão e na Lava-Jato, e a expectativa para o futuro próximo é carregar a candidatura do ex-presidente Lula, condenado pelo juiz Sergio Moro. Para rebater os questionamentos do eleitorado sobre os desvios éticos que o partido cometeu, o discurso continua sendo o de que a legenda errou apenas “ao repetir as velhas práticas de financiamento dos outros partidos”.

— Tivemos um desgaste muito grande, vamos ter que superar esse desgaste ao longo do tempo. Não vai ser simples, vamos ter que explicar para as pessoas. Vamos aos poucos superando isso — acredita o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP).

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