Pelo menos dois secretários do ex-governador Beto Richa que foram mantidos na administração de Cida Borghetti certamente serão brevemente chamados a dar explicações sobre sua eventual participação na coleta de R$ 2,5 milhões da Odebrecht que teriam feito em favor da campanha de reeleição de Richa em 2014. São eles os secretários do Planejamento, Juraci Barbosa, e Fernando Ghignone, da Administração, que foram tesoureiros do PSDB. A permanência deles coloca o Palácio Iguaçu mais perto da Operação Lava Jato.
A doação ilegal da empreiteira foi delatada pelo ex-executivo Benedicto Jr., que revelou que, para obter a concessão da PR-323 (obras de duplicação e posterior exploração do pedágio da rodovia ligando Maringá a Francisco Alves) a empreiteira teria contribuído com R$ 4,5 milhões, dos quais chegou a desembolsar R$ 2,5 milhões em três parcelas às vésperas do pleito daquele ano. Logo depois, a empresa abandonou o projeto por ter sido engolida pelo turbilhão da Lava Jato.
Quando surgiu a notícia, em abril de 2017, o então governador Beto Richa reagiu irritado: ele de nada sabia e o único que poderia responder sobre o assunto seria o tesoureiro do PSDB, Juraci Barbosa, já que todos os assuntos de financiamento das campanhas do PSDB são tratados pelos tesoureiros da legenda – o que incluia também Fernando Ghignone, que ocupava o cargo quando das campanhas de 2008 e 2010.
Agora, como Richa perdeu a prerrogativa de foro nos tribunas superiores, o ministro Og Fernandes, do STJ, baixou os autos do inquérito para a primeira instância para prosseguimento das investigações e para eventual ação penal, que passam a ser conduzidos pela força-tarefa da Lava Jato na Ministério Público Federal de Curitiba e pela 13.ª Vara Criminal, onde trabalha o juiz Sergio Moro.
Em junho de 2017, dois meses após após a divulgação da denúncia, Juraci e Ghignone foram promovidos à condição de secretários de estado e ganharam também foro privilegiado. O primeiro era presidente da Fomento Paraná e o segundo, da Sanepar. Viraram secretários do Planejamento e da Administração respectivamente. Eles negam ter recebido quaisquer doações ilegais para as campanhas de Richa.
Agora causam constrangimento ao governo Cida Borghetti, na medida em que a presença deles na administração coloca o Palácio Iguaçu mais perto da Lava Jato, literalmente. Poucas quadras separam o Palácio das sedes da Justiça Federal e do MPF, que já começaram a ser alimentados por documentos e gravações consideradas explosivas e que implicam diretamente outros servidores do governo anterior, mantidos por Cida, e, indiretamente, talvez o próprio ex-governador.