O Brasil e a era do maniqueísmo

Bem é bem, mal é mal. Bom é bom, mau é mau. É assim que o mundo se divide entre os seguidores de Maniqueu, o filósofo persa que no século terceiro da era cristã pregava a existência, no plano religioso, de uma radical e incurável distância entre os dois conceitos – o Bem é Deus, o Mau é o Diabo. Esta visão de mundo acabou virando o adjetivo maniqueísta, que divide pessoas, sociedades, pensamentos e opiniões entre bons e maus. Não há meio termo. Contrariamente ao que pregava o filósofo Aristóteles, segundo o qual a virtude está no meio – Virtus in medium est.

Instalou-se no Brasil desde a campanha eleitoral a visão maniqueísta de que é petista ou comunista todo aquele que ousar criticar o novo presidente ou seus seguidores, da mesma forma que se define como fascistas todos os que optaram pelo “ideário” bolsonarista. É o maniqueísmo na prática e na sua mais pura e primitiva essência que se estabeleceu na política brasileira nos agitados dias atuais.

O comportamento tosco dos que se alinham a uma das duas correntes abre as portas para a patrulha do pensamento; perdem-se os escrúpulos em relação à livre expressão dos que não se sentem obrigados a concordar com um ou outro lado. E ao gosto do freguês adjetiva-se o “livre pensar” com os rótulos que voltaram à moda – esquerda ou direita, fascista ou comunista, petista ou bolsonarista – como se não houvesse espaço ou razão para o diferente, para o independente, para o discordante.

Assim como pensava o grande jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, que dizia que toda unanimidade é burra, também o fanatismo ou a visão estreita dos que imaginam só existirem o bem e o mal, o bom e o mau, se enquadra no mesmo conceito – como se fosse necessário ressuscitar o slogan “ame-o ou deixe-o” que contaminou muitas cabeças durante o regime militar.

Ver, ler, pensar não são atitudes passivas. Exigem senso crítico, modulação, ponderação e nunca o instinto animal de, sem mais, classificar, rotular, condenar segundo os ditames da corrente a que, legitimamente, a pessoa aderiu. O distanciamento crítico e inteligente serve até mesmo para censurar posturas, palavras ou ideias que se pregam ou se propagam dentro do próprio grupo.

Por que petistas não condenam com veemência os crimes – que eufemisticamente chamam de “erros” – cometidos pelo seu grupo político? Por que não conseguem reconhecer que foi desastrosa a política econômica dos anos do PT no governo? Ou por que agora se tornou necessário concordar com todas as ideias de Bolsonaro – algumas reconhecidamente deficientes – como se fossem o caminho infalível para a salvação da pátria? Nenhum dos lados está imune à crítica e à auto-crítica.

O resto é cegueira, é não querer enxergar. É maniqueísmo.

6 COMENTÁRIOS

  1. “esquerda ou direita, fascista ou comunista, petista ou bolsonarista – como se não houvesse espaço ou razão para o diferente, para o independente, para o discordante”

    Diferente?! Razão para reconhecer uma ideologia que não aceita o diferente como o Bolsonarismo e tem uma postura abertamente militante pela destruição da diferença?! Ideologia que não aceita LGBTQS, o feminismo, os negros… e demais minorias?! Além de exaltar a ditadura militar?! Ideologia conservadora cujo foco é cassar direitos de minorias, daí a acusação de fascismo?! Ora, quem não respeita as diferenças é a ideologia Bolsonarista. O ideario Bolsonarista é fascista pelo seu autoritarismo (desprezo pela democracia e demais instituições democraticas), seu ódio as minorias (gays, mulheres, negros…), sua defesa do autoritarismo (ditadura militar)… Com todo respeito, querer comparar PT e Bolsonarismo como se fossem dois extremos de uma mesma moeda é equivocado. O PT nunca cassou o congresso, nunca prendeu jornalistas, nunca estabeleeu censura no país (a imprensa falou o que quis nos governos PT), sempre respeitou as liberdades individuais, nunca estabeleceu estado de sitio e de exceção, nunca instituiu a pratica sistemática da tortura… Ao contrário do Bolsonarismo que sempre defendeu tais medidas. Comparar o PT e Bolsonarismo, e acusar de maniqueistas quem acertadamente diz que o Bolsonarismo como ideologia é fascista, e dizer que PT e Bolsonarismo são duas faces da mesma moeda é legitimar o extremismo Bolsonarista. Essa pseudo relativização só piora as coisas e fortalece o pensamento Bolsonarista. Chamar o Bolsonarismo de fascista não é rotular, mas sim dar nome aos bois. Mostrar o que o Bolsonarismo realmente é.

    O PT cometeu crimes, cometeu. O Mensalão e o Petrolão são fatos. É inegável. E sim, o PT deveria se retratar e pedir desculpas. Mas a maneira severa como o PT foi defenestrado da politica, como Lula e Dilma foram tratados, mostra o quanto o PT é mal-visto e odiado por parte das elites brasileiras. Lula foi condenado por um apartamento no qual ele nem era dono. “Fatos indeterminados”. E senso critico a esquerda tem de sobra, até porque a “auto-critica” é um dos pilares da politica. O PSOL, PCB, PÇO… são extremamente criticos em relação ao PT.

  2. Muito antes de Maniqueu tinha Abel, que matou Caim. Cito esta passagem para deixar bem claro que CRIME É CRIME E PONTO. Não há gosto ou paixão nesta interpretação. O partido/quadrilha que foi expurgado do contexto mandatório o foi por crime. Agora, criar um artigo para relativizar ou acomodar as coisas cujo escopo principal seria abrandar o entendimento de que crime não é crime por que daí seria maniqueísmo faça-me o favor . . .

  3. Blablablablablablablabloablabla cansei.. poderia ter seguido e meu texto seria igualzinho o acima.

    Quem pariu Mateus, que o embale. Agora que o terrorista assumiu a Republica da Lava Jato os bajuladores contumazes e envergonhados tentam se equilibrar e apóair o inapoiável.

    Penso que na Alemanha dos anos 20–30 devia ter um monte de jornalista cabotino tentando fazer de conta que não tinha nada com isso.

    Se ha alguem responsável por tudo de ruim que venha a acontecer no Brasil são os jornalistas do Paraná. TODOS, com poucas excessões se alinharam com o Paraná Uber Alles e com o ” moro meu justiceiro favorito” .

    E agora o moro vai mandar no Brasil pois prendeu quem podia interferir nos seus planos.

    E temos 4 anos pela frente . Serão longos tanto para mim quanto para o ContraPonto pois enquanto eu viver vou vir aqui lembrar voces do papelão que fizeram e que agora querem ., como manda a cartilha do bom paranaense , fazer de conta que não tem nada com isso.

    • Não dá pra entender esse Eduardo. Na vida pessoal deve ser muito ranzinza, vive criticando este blog mas não deixa de ler e comentar, nada serve, discorda de tudo, sempre contra qualquer coisa. tem dificuldades pra entender e é incapaz de interpretar do jeito certo. Pelo que acompanho o Contraponto é diferente de todos os outros blogs, é independente, mas o Eduardo insiste em generalizar e atacar seus jornalistas. É melhor ele ler só o Ismael poruqe lá ele encontra a oinião que gosta

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