MPF avisa: investigações sobre corrupção no Paraná não terminaram

Nas 42 páginas da denúncia que o Ministério Público Federal (MPF) apresentou e foi aceita pelo juiz da Lava Jato, Sergio Moro, o nome do ex-governador Beto Richa e o codinome “Piloto” são mencionados 83 vezes. As menções foram colecionadas a partir de registros extraídos das planilhas em que a Odebrecht designava o destino das propinas e dos depoimentos e referências feitas por todos os reus ou por colaboradores premiados ouvidos pelos procuradores federais.

Em segundo lugar nas menções está o nome do ex-chefe de gabinete do Palácio Iguaçu Deonilson Roldo (67 vezes), que assumiu o comando das operações de arrecadação e distribuição de recursos ilícitos desde que o primo-distante Luiz Abi Antoun foi afastado da tarefa após a prisão que sofreu em 2015 por envolvimento num esquema de fraude em licitação na manutenção mecânica da frota de oficial. Luiz Abi é citado 53 vezes – número pouco superior às referências que são feitas ao amigo-sócio Theodócio Jorge Atherino, também encarregado de contatos com “doadores” e de transportar e fazer chegar valores arrecadados à cúpula da organização criminosa. Pepe Richa, irmão e ex-secretário de Infra-Estrutura e Logística, é outro dos nomes mais frequentemente mencionados.

O secretário do Cerimonial e das Relações Internacional Ezequias Moreira aparece em algumas dezenas de citações, participando de reuniões com a presença de Beto Richa, intermediando o recebimento de dinheiro vivo ou mantendo contatos telefônicos e pessoais com o operador Jorge Atherino.

O relatório do Ministério Público Federal é minucioso. A partir de registros das estações-base da telefonia celular em Curitiba e em São Paulo, por exemplo, foi possível desenhar mapas precisos da localização nos dias e horários das andanças de Atherino e de Luiz Abi quando cumpriam roteiros para apanhar propinas em vários endereços – dentre eles o apartamento da sogra de Atherino num bairro nobre da capital paulista.

MPF avisa: investigações sobre corrupção no Paraná não terminaramO MPF descobriu também que parte dos valores destinava-se ao aproveitamento pessoal dos operadores do esquema e o modus operandi. Deonilson Roldo, por exemplo, fazia pequenos mais constantes depósitos nas contas bancárias de sua empresa particular, a Start Agência de Notícias – firma que, embora não tivesse nenhum funcionário, aparece no contrato social como produtora de filmes para publicidade, produção cinematográfica e atividades de rádio.

Chamou a atenção do MPF a coincidência dos períodos em que se davam os depósitos fracionados com as datas de recebimento dos valores pagos pela Odebrecht – mas há outros períodos de depósitos em dinheiro vivo em datas distantes, o que levou os procuradores a desconfiar da existência de outras fontes.

Por isso, o MPF não considera que as investigações estejam concluídas e avisa o juiz Sérgio Moro que outras diligências estão em curso – como mostra a última página da denúncia, conforme fac-símile reproduzido acima – incluindo personagens não denunciados nesta primeira peça, dentre os quais o ex-governador Beto Richa. Pede mais prazo para esclarecer crimes antecedentes e sobre a “conduta de outros investigados que não foram, na presente oportunidade, denunciados.”

Veja de novo o inteiro teor da denúncia que tornou reus 11 participantes da organização criminosa, dentre os quais os mais próximos colaboradores do então governador, Deonilson e Atherino:

Denúncia MPF Odebrecht

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