Julieta, Capone e a Lei Seca

Quem assistiu ao filme “Os intocáveis” ou conhece um pouco da história da Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos na década de 1920 sabe no que deu. Embalada pela onda moralista que dominou a sociedade norte-americana, a Máfia encontrou oportunidade para entrar no ramo do contrabando e falsificação de bebidas; bares e restaurantes passaram a ser instalados nos porões, disfarçados, escondidos. Al Capone e outros poderosos chefões mandavam no pedaço, subornavam a polícia, compravam os juízes, corrompiam mais altas autoridades.

A Máfia se tornou uma das “indústrias” mais rentáveis do mundo e, durante algumas décadas, provou que o “crime compensa”. A criminalidade se tornou espantosa, nunca se bebeu tanto nos Estados Unidos como naquela época. Quando o álcool foi liberado, as organizações criminosas já eram tão poderosas que puderam diversificar suas atividades para os jogos de azar (Las Vegas, a cidade do pecado, por exemplo, nasceu neste período) e para coisas piores, como prostituição e drogas.

Em Curitiba, agora, ensaia-se algo parecido com a Lei Seca. Afora as “incertas” que volta e meia a prefeitura dá no centro da cidade – principalmente na Vicente Machado, proximidades da casa do prefeito – fechando-os sem aviso prévio e nas horas de seu maior movimento, surge um projeto de lei, de autoria da vereadora Julieta Reis, que, no seu artigo 1.º, diz:

“Fica proibido o consumo de bebidas alcoólicas de qualquer graduação em logradouros públicos do Município de Curitiba entre as 2h (duas horas) e 8h (oito horas”.

Como logradouros públicos se entendem também as calçadas – lugares que às noites e madrugadas costumam ser ocupadas pelos boêmios barulhentos que se abastecem de bebidas nos bares e lanchonetes situados em frente.

Tá certo. Algazarra de madrugada incomodando a vizinhança, tráfico de drogas e ambientes propícios à prática de outros crimes devem, sim, ser contidos. A escolha dos meios de contenção deve ser definida e aplicada pelas autoridades da segurança e da preservação das posturas municipais – mas impor a Lei Seca, à semelhança da que vigorou na violenta primeira metade do século passado nos Estados Unidos – talvez não seja o caminho mais adequado.

5 COMENTÁRIOS

  1. Está certo. Mesmo porque no momento tem emprego sobrando na cidade e a arrecadação do município esta bomvbomb. Nada como fechar alguns milhares de estabelecimentos e postos de trabalho formais e informais para aquecer a economia. Depois e so cortar nos salarsal dos servidores e aumentar impostos e taxas.

  2. Penso que os locais de venda de bebida alcoólica deveriam ser obrigados a fechar no máximo à uma da manhã nas vésperas de dias úteis e às três da manhã nas vésperas de sábados, domingos e feriados, evitando assim juntar “malandro com trabalhador” no transito das manhãs. Em muitas cidades do mundo dito civilizado já funciona mais ou menos assim. E isto não tem nada a ver com lei seca.

  3. Lamentável o desconhecimento do articulista sobre a realidade da maior parte das cidades americanas onde não só vige proibição absoluta do consumo de bebidas alcoólicas em logradouros públicos como também do transporte visível de bebidas alcoólicas e ainda se faz fixação de horários permitidos para sua venda nos estabelecimentos autorizados para tanto. Recomendo, apenas sobre a cidade de Nova York, aquela tão celebrada pela tolerância zero e seus efeitos, a leitura do exposto no site https://pt.thehessjourney.com/7632-new-york-city-alcohol-and-drinking-laws-guide. Respeito a posição favorável à libertinagem alcoólica, afinal somos tão avançados em cidadania, ética e comportamento social (não se ouve falar de transtornos causados por consumo excessivo de álcool), mas a comparação foi extremamente infeliz.

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