Walter Delgatti Neto, 30, que afirmou à Polícia Federal ter hackeado contas de Telegram de procuradores da Lava Jato e repassado as mensagens ao site The Intercept Brasil, afirmou à Folha de S. Paulo, em entrevista por escrito (assinantes podem ler a íntegra clicando aqui) não ter achado que seria preso porque, em sua opinião, não teria cometido crime ao acessar informações que ele diz considerar que sejam públicas.
“Utilizei da minha formação técnica para acessar informações públicas, online… Espantei-me com o seu conteúdo e tornei, pequena parte do acervo, domínio público. Tecnicamente, não tive qualquer dificuldade em acessar as informações…”, declarou por escrito à reportagem.
Delgatti é suspeito de praticar os crimes de organização criminosa e de “invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo”, cuja pena é de 3 meses a 1 ano de prisão.
Ele negou ter falado que venderia as mensagens ao PT, buscou esclarecer seu contato com a ex-deputada Manuela d’Ávila (PC do B) e disse que, por ser aluno de direito, entendeu que havia ilegalidades na atuação da Lava Jato, por isso copiou as mensagens.
Delgatti é um dos quatro presos pela PF em julho sob suspeita de envolvimento nos hackeamentos. Ele concedeu sua primeira entrevista por escrito após a Justiça Federal ter negado pedido da Folha para entrevistá-lo na prisão.
A entrevista por escrito foi intermediada pelos advogados Luis Gustavo Delgado Barros e Fabrício Martins Chaves Lucas.
Delgatti reafirma não ter modificado as mensagens repassadas ao Intercept. “Não editei ou alterei qualquer conteúdo.”
Ele está preso na Papuda, em Brasília, no bloco F, ala G, mesmo local onde estão políticos famosos como o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA) e o ex-senador Luiz Estevão.
Segundo Delgatti, ele entregou o material ao jornalista Glenn Greenwald de forma espontânea, de graça e anônima. A PF investiga se mais pessoas participaram da invasão do aplicativo e se houve mandantes e pagamentos.
O cara tinha um padrão de vida fora do comum.
O tempo concentrado para obter centenas de horas de gravações ilegais não estaria atrelada ao interesse público, pois sua história, seu passado não vislumbra nada de altruísmo. Há muito para esclarecer e chegar aos verdadeiros interessados.