Gilmar foi para Beto a ONU que Lula não teve

O grande e último argumento de Lula para manter sua candidatura a presidente foi um parecer de dois membros do comitê de direitos humanos da ONU que diziam que o ex-presidente, mesmo preso e mesmo inelegível, deveria ter seu nome nas urnas do dia 7 de outubro. Não deu certo. Apesar do esforço do ministro Luiz Edson Fachin, os seis outros ministros-membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) derrotaram a tese e tiraram definitivamente Lula da disputa.

O tortuoso último recurso de Lula pode ser comparado também ao tortuoso e solitário despacho de quatro páginas do ministro do STF Gilmar Mendes mandando soltar da prisão o ex-governador Beto Richa e outros 13 suspeitos que cumpriam prisão por envolvimento na Operação Rádio Patrulha, que o Gaeco deflagrou para investigar confessada distribuição de propinas no programa estadual Patrulha do Campo.

O argumento de Gilmar chegou a ser simplório: como os fatos investigados eram antigos, o Gaeco não poderia investigar e mandar prender Richa justamente agora, às vésperas de uma eleição em que ele se apresenta como candidato a senador. Decisão que valeu para todos os mais presos pelo motivo.

Sim, os fatos são antigos de pelo menos seis anos, já que o esquema começou em 2012. Entretanto, até abril de 2018, por ser ainda detentor do foro privilegiado concedido aos governadores em exercício, Beto não poderia ser investigado criminalmente pelo Ministério Público Estadual.

Mais: foi só a partir de abril que o Gaeco passou a contar com as informações comprometedoras da delação do empresário Tony Garcia – 18 horas de gravação perante os procuradores do Gaeco, recheadas de áudios e documentos – que deram o fio da meada e que levaram o Ministério Público a achar motivos para, cinco meses depois, concluir a primeira parte do inquérito e pedir a prisão provisória dos envolvidos.

Levado ao juiz da 13.ª Vara Criminal de Curitiba, Fernando Fischer, o magistrado considerou suficientes os motivos apresentados e decretou a prisão temporária e logo em seguida, diante das evidências de que, soltos, os detidos poderiam atrapalhar a continuidade do inquérito, converteu-a em preventiva – isto é, sem prazo para terminar.

Gilmar não viu nada disso. Viu apenas que a prisão, comparável às que se faziam no período da ditadura militar, não se justificava. Foi para Beto Richa a ONU negada a Lula.

O Gaeco vai entrar esta semana com recurso contra a decisão do ministro Gilmar Mendes.

5 COMENTÁRIOS

  1. Que absurdo. O GAECO ficar à margem da boa vontade dos tribunais superiores para apurar e dar andamento à fatos antigos porque os próprios tribunais ficam segurando. Fato desde 2012 e só agora que chegou aqui. Aí o MP precisa correr contra o tempo para evitar a impunidade e o Gilmar está preocupado com as eleições?? Que mal exemplo expor essa dependência. “Quando o MP trabalha é perseguição, e quando demora dizem que está protegendo..”
    As vezes parece que o povo tem oq merece. Tenho pena dos que sofrem calados. Pois sabem que atualmente palavras são vagas.. Portanto silenciar em certas horas faz mais sentido, e faz alguns até tremeram…

  2. Boa análise. A grande maioria se atém à discussão acerca do vitimismo do Lula e o privilégio do Beto.
    Mas a questão de fundo disto tudo (entrelinhas) pode estar no ano de “2012”, quando tudo começou a ser descoberto.
    A premissa jornalística de que “notícias já publicadas não da repercussão” deve ser revista pela antiga escola. Acredita -se que alguns brasileiros nem lembram das notícias de dois anos atrás. Portanto sequer imaginam quantas respostas ainda estão por vir. A indignação hoje é mais explosiva, porém momentânea. Portanto, nada melhor do que realizar um retrospecto para ter as apurações e respostas devidas. E o Tony começou. Só falta outros segmentos da imprensa começarem a relembrar das dificuldades em quebrar paradigmas no passado recente.

  3. “foi um parecer de dois membros do comitê de direitos humanos da ONU que diziam que o ex-presidente, mesmo preso e mesmo inelegível, deveria ter seu nome nas urnas do dia 7 de outubro.”

    Não li mais nada depois disso. Para que ler? O ContraPonto assumiu agora também o papel de fiscal da Constituição e de sub merval.

    Pois então se era apenas isso por que o ContraPOnto só agora e neste arremedo de matéria informa a seus leitores que havia um parecer da ONU?

    Reduzir o caso a uma questão aritmética dizendo que foram “apenas” 2 membros é um grande argumento. Se fossem 3 ou 4 teria mais valor? E se fosse 1 membro apenas teria menos ainda?

    Pelo que li de quem entende disso e que não é jornalista tucano, o Brasil esta comprometido a fazer o que a ONU indicou. Não consta ao que parece a menção do número de pessoas que deveriam assinar a medida, que parece , e é o que importa vem da ONU.

    A justiça neste ponto de vista do jornalismo tucano global e de guerra é bem isso que o ContraPonto defende. Vale quando interessa

    Se o Lula esta condenado ou não ate agora tambem é mais um desejo que uma realidade pois ainda tem agua pra rolar no infiltramento do triprex E a agua que vai rolar é em Brasilia.

    Ate la o Lula continua sendo um preso politico, ao contrario do richa rapidamente socorrido pelo jui9z de todos os tucanos que era um politico preso e corre celere pro mandato de Senador.

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