Curitiba deve registrar 80 mortes diariamente no fim deste mês de março, caso não sejam tomadas medidas para elevar o isolamento social imediatamente. É o que aponta Nota Técnica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia sobre a epidemia na capital paranaense. Na contra-mão dos que ainda insistem na volta às aulas presenciais, o estudo recomenda mais restrições aos deslocamentos para impedir que o coronavírus continue se espalhando sem controle. “A situação que se projeta para Curitiba por si só é grave, e o relaxamento do distanciamento social neste momento, além do retorno das aulas nas modalidades presencial ou híbrida deve agravar ainda mais a situação”, diz a Nota.
O documento reporta as conclusões de estudo adotando o modelo SEIR (Susceptíveis-Expostos-Infectados-Recuperados). Este modelo estatístico computacional constitui ferramenta primária para estudos epidemiológicos de resposta à Covid 19 a nível global. Os modelos SEIR têm predito com precisão o aumento de casos, internações, óbitos e a ocorrência de novas ondas no Brasil, a exemplo da segunda onda em Manaus. O texto alerta que “a negligência em ignorar estes resultados têm representado um alto custo de perda de vidas.”
O modelo SEIR projeta que Curitiba deve ter de 80 a 90 mortes diárias por Covid 19 no final de março e início de abril, podendo chegar a mais de 100 óbitos diários neste período, se não forem adotadas medidas mais rígidas de isolamento social. “A inviabilidade do retorno presencial ou híbrido para Curitiba neste momento é respaldada pelo modelo SEIR, onde estima-se que este retorno iria acelerar a transmissão da Covid 19, colocando em risco de infecção mais de 500 mil pessoas”, registra a Nota Técnica.
Curitiba teve duas ondas de Covid 19 em 2020, com picos de mais de 20 óbitos diários. A primeira onda teve seu auge em agosto e a segunda, em dezembro. A partir do final de fevereiro de 2021 ocorreu um aumento explosivo no número de casos e o modelo estatístico computacional SEIR projetou a curva de óbitos para 80 diários no final de março/início de abril.
O modelo SEIR prevê ainda que, com o agravante de não termos ainda um plano efetivo de vacinação, uma quarta onda de COVID-19 se forme a partir de julho.
O estudo reafirma a impossibilidade da volta segura às aulas presenciais nesse momento, também pela falta de condições mínimas de controle nas escolas. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara em definir que a retomada das aulas presenciais ou híbridas necessitam de um amplo programa de testagem, tendo como princípio diminuir o contágio de localidades em transmissão comunitária. Tal monitoramento e testagem não tem sido efetivado em proporções adequadas em nenhuma cidade brasileira, incluindo Curitiba”, aponta.
Aulas presenciais ou híbridas serão seguras, segundo o estudo científico, quando limiares de imunização de rebanho via vacinação forem adquiridos pela população, assegurando-se que a cidade em questão não esteja em níveis de transmissão comunitária.
O estudo cita o caso de Manaus como um alerta para os efeitos desastrosos de ignorar recomendações técnicas epidemiológicas. “O Brasil já possui exemplos claros que mostram as trágicas consequências de se negligenciar a aplicação de isolamento social e propiciar um retorno precoce das atividades não essenciais e aulas presenciais. A cidade de Manaus foi a primeira capital do Brasil a flexibilizar a abertura do comércio e retomar as aulas presenciais, ignorando recomendações técnicas que previam um aumento de casos. Após três semanas do retorno presencial do ensino fundamental, o número de casos de Covid 19 no município dobrou, resultando na segunda onda”, diz a Nota.