Bertholdo contratava empresas de Curitiba para hospitais de campanha do Rio

(Da TV Globo e Portal G1) – Os bastidores de um personagem pouco conhecido, mas com estreita ligação com a organização social Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) foram revelados pelo RJ2, da TV Globo carioca, desta quarta-feira (29). O advogado paranaense Roberto Bertholdo é apontado em investigações como um dos chefes da OS.

Documentos obtidos pela equipe de reportagem com exclusividade mostram que o Iabas contratou empresas relacionadas a um parente de Bertholdo. Veja abaixo o vídeo da TV Globo.

Foi em uma troca de mensagens obtida pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) que foi identificada a participação ativa de Bertholdo. Aos 58, o advogado é curitibano e foi citado da seguinte forma em um diálogo entre o ex-secretário de Saúde Edmar Santos com o ex-subsecretário Gabriell Neves:

“Consegui mais 100 ventiladores, agora. Roberto vai comprar pelo Iabas. Vou pagar pra ele como investimento, e requisitar os aparelhos via SES [Secretaria de Estado de Saúde]. (…) Acho que nosso planejamento está começando a se concretizar”, disse Gabriell a Edmar.

Ativo em reuniões do Iabas, Bertholdo é um dos líderes do instituto no Rio. O RJ2 descobriu que ele atua, principalmente, nos contratos referentes à pandemia. São acordos que estão no centro da investigação envolvendo o governador Wilson Witzel.

Atualmente, o advogado mora em Brasília, onde exerce o papel de articulador político e lobista desde os anos 2000. Ele já atuou em nome dos políticos José Janene (PP) e José Borba (PMDB). Ambos foram citados no processo do Mensalão.

Entre 2003 e 2004, durante a investigação, o advogado foi acusado de grampear, ilegalmente, o telefone do então juiz Sérgio Moro. Por essas condutas, foi condenado e chegou a ser preso por alguns meses entre 2005 e 2006.

No Rio, Bertholdo foi escolhido para ser o responsável por todos os contratos do Iabas. Mas ele é mais do que isso. Documentos enviados à Secretaria de Saúde e obtidos pelo RJ2 mostram que o advogado liderou as contratações de hospitais de campanha do estado.

De acordo com o documento, o escritório de advocacia faria consultoria, liderança e representação no que diz respeito ao projeto de construção de hospitais de campanha e demais contratações realizadas.

Também representaria o Iabas em reuniões sobre o tema, falaria em nome do Iabas em contatos, inclusive informais, com fornecedores contratados em virtude do projeto. Além da coordenação das contratações e demandas durante toda a execução do projeto de hospitais de campanha.

Sob o comando dele, o Iabas contratou duas empresas conhecidas para entrar no empreendimento: a Hera Serviços Médicos cobrou mais de R$ 130 milhões para a contratação e gestão de médicos, e a Hygea Gestão e Saúde foi contratada por mais de R$ 6 milhões para a área de medicina do trabalho.

As duas empresas ficam em Curitiba e tem entre os diretores Thiago Gayer Madureira. Médico e empresário da cidade, ele também é parceiro em outra empresa do vereador Pier Petruzzielo (PTB). Petruzzielo é ex-genro de Bertholdo e pai dos netos do advogado.

Thiago Madureira, dono das empresas contratadas pelo Iabas, doou R$ 30 mil em 2016 para a campanha de Petruzzielo. Nas últimas eleições, foram mais R$ 50 mil para que o vereador se candidatasse a uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná. Mas ele não se elegeu.

Roberto Bertholdo declarou desconhecer o documento do Iabas indicando ser ele o responsável pelos hospitais de campanha e disse que, como advogado, teria apenas poder de veto.

Sobre a contratação das empresas ligadas ao amigo de infância do ex-genro, Bertholdo disse que não participou do processo de escolha e que os valores acordados estão dentro dos parâmetros legais.

Uma equipe da TV Globo foi até a sede da empresa de Thiago Madureira, mas não conseguiu falar com o empresário. No local, em Curitiba, foi informado que os funcionários estão em home office.

Enquanto isso, no Rio, os contratos firmados pelo Iabas são investigados. O acordo previa o pagamento de R$ 800 milhões para a construção de hospitais de campanha que nem chegaram a ser construídos. Só duas unidades de saúde saíram, de fato, do papel.

O que dizem os citados

Além de defender a legalidade dos processos de contratação, Bertholdo também alegou inocência nos processos mais antigos, inclusive negando ter “grampeado” o então juiz Sérgio Moro.

O vereador Curitibano Pier Petruzzielo disse que desconhece qualquer contratação ligada ao crime.

Thiago Gayer Madureira declarou que é amigo de infância do vereador, e que nunca teve relação com o ex-sogro dele. E acrescentou que a contratação das empresas se deu pela área técnica do grupo, inclusive validadas pelo Governo do Rio.

O governo do estado reafirmou que está fiscalizando todos os contratos com organizações sociais desde o início da pandemia, e que suspendeu os pagamentos até que as fiscalizações terminem.

O Iabas afirmou que contratou duas empresas do Paraná por preços abaixo do mercado. Acrescentou, ainda, que Roberto Bertholdo não participou da escolha. A instituição afirmou que o advogado atua como consultor jurídico.

 

2 COMENTÁRIOS

  1. Faltou lembrar que este advogado que ajudou na venda do Bamerindus e Banestado, ajudando a família Vieira e o Tony Garcia. Inclusive foi suplente do Tony.Teve como advogado atual membro do TJ, filho de gente influente em Brasília.
    Tudo conforme cópia das revistas “IstoÉ” e “Veja Furacão”. Certas pessoas nunca saem de cena, seja na Lava Jato, seja na Lava Bingo. Tudo pro Baú do esquecimento.

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