Estamos a poucas semanas de uma das eleições mais imprevisíveis de nossa história. Neste ano, cinco candidatos têm chances reais de ocupar por quatro anos o Palácio do Planalto e, assim, administrar um país que precisará de muitas reformas para retomar o caminho do desenvolvimento social e econômico.
Se voltarmos no tempo, vamos perceber que as últimas eleições para presidente exigiram pouca reflexão do eleitor. Isso porque a polarização entre PT e PSDB não dava muita margem para o novo, o diferente, o inesperado. Hoje o cenário é completamente diferente. Há na disputa candidatos de extrema-direita, direita, centro, centro-esquerda e esquerda. Até parecem posições de jogadores em um time de futebol.
E diante de tantas opções diferentes, como escolher? É importante dizer que o método de decisão do eleitor também está indefinido. O que irá prevalecer? O voto pela emoção ou pela razão? Neste mês de setembro o enredo eleitoral dificultou ainda mais a resposta para essa pergunta. Um deles a definição de Fernando Haddad como candidato do PT e, é claro, o atentado sofrido pelo candidato do PSL, Jair Bolsonaro, em Minas Gerais
Ambos os casos manifestam sobre o eleitor um efeito mais emocional. Os candidatos querem ganhar o voto pelo coração. No caso de Haddad, o apelo não se faz por meio de um plano de governo para o País. Pouco se fala da proposta do candidato para melhorar a saúde, educação e gerar mais empregos. O que mais se divulga é que ele é o representante do ex-presidente Lula.
A campanha tenta resgatar a memória afetiva do eleitor, mostrando que nos tempos de Lula a vida do brasileiro era melhor. Trata-se de um argumento de alto teor emocional. Será que irá funcionar?
A estratégia de Jair Bolsonaro é parecida. Ela busca resgatar nas lembranças do eleitor um tempo em que as coisas funcionavam no Brasil. Um período em que, segundo ele, a violência era menor, o emprego existia e a corrupção não estampava as páginas de jornais como ocorre atualmente.
O atentado sofrido por Bolsonaro resultou em uma comoção em todo o País. Foi um ato extremamente grave contra o cidadão e, também, uma apunhalada na democracia. Aquele momento poderia ser um divisor de águas no sentido de tornar o processo eleitoral menos agressivo, com mais diálogo e sensatez.
Mas, como sabemos, não foi isso o que aconteceu. Horas mais tarde, a vítima, em recuperação no hospital, posava para fotos com dedos no formato de uma arma, avisando: tudo está bem, tudo voltará ao normal. Seria esse o caminho ou foi perdida a oportunidade de se revelar alí um estadista?
Será que naquele momento não caberia perfeitamente as inspiradoras palavras de Nelson Mandela em seu discurso de posse, há 24 anos?
Trecho: “Chegou o momento de sarar as feridas. Chegou o momento de transpor os abismos que nos dividem. Chegou o momento de construir.” Terminou seu discurso invocando a liberdade para todos e abençoando a África do Sul.
Melhor seria que a discussão nas redes sociais estivesse pautada na dialética das propostas. Quais as vantagens de um plano de governo sobre o outro, como a experiência de um se destaca frente a outro oponente. São questionamentos que, sem dúvida, suscitam no eleitor reflexões e argumentos muito mais racionais do que emocionais.
Penso que, por ora, o eleitor deve tentar se conhecer ao máximo possível e se perguntar: desejo mais liberdade ou ser mais tutoriado pelo Estado?
Acredito que um dia chegaremos a este nível de pragmatismo e clareza política.
Mas ainda temos muito o que aprender.
*Uranio Bonoldi consultor, palestrante e oferece aconselhamento personalizado para empresários e executivos. www.uraniobonoldi.com.br