Quadro Negro: a delação do fim do mundo

Contraponto recebeu a íntegra da delação premiada de Eduardo Lopes de Souza, protagonista principal da Operação Quadro Negro.

É longa e extremamente detalhista. Conta como foi atraído para ser instrumento de um grande esquema de arrecadação para beneficiar agentes públicos e financiar campanhas políticas, incluindo a da reeleição de Beto Richa e a do projeto de candidatar a senador.

Dos R$ 20 milhões que teria recebido para construir escolas, pelo menos R$ 12 milhões repassou para os beneficiários. A intenção do articulador do esquema, o diretor da Educação Maurício Fanini, porém, segundo Lopes, era a de arrecadar R$ 32 milhões para a campanha eleitoral em sistema de caixa 2.

Minúcias sobre onde ficavam portas, banheiros e vasos sanitários; tipos de malas e mochilas de dinheiro deixados ao lado de vasos santitários; idas e vindas em bancos para sacar dinheiro em espécie; temores para que o assunto não fosse denunciado pela imprensa; reclamações de deputados que exigiam mais dinheiro… está tudo lá contado timtim por timtim ao Ministério Público.

Se há provas sobre tudo o que disse? Não se pode ser certeza, mas também seria imprudente demais da parte do delator se não dispusesse de meios documentais para comprovar – documentos, gravações, extratos bancários, vídeos… existem registros de saídas de dinheiro dos cofres públicos para pagamento integral de obras que não tinham saído chão; laudos de medição das obras atestando que elas estavam quase concluídas; depósitos e saques bancários.

A delação é quase uma apostila com a qual se pode aprender como se processam maracutaias com tanto êxito – com a infelicidade, porém, de que guardar segredo absoluto é impossível. Sempre haverá um jornalista investigativo capaz de por tudo a perder.

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2 COMENTÁRIOS

  1. De um lado, existem inúmeros indicativos consistentes de ilicitudes, acumuladas nos últimos anos. São acusações de crimes, direcionadas ao executivo e ao legislativo paranaenses. Há suficiente peso no que já se sabe para representar desconforto eticamente insustentável para qualquer mortal comum. Por outro, a insuperável desfaçatez, patológica nos entes políticos brasileiros. Característica comportamental que não lhes permite a condição de perder a pose. Negam qualquer envolvimento. Acusam terceiros de perseguição. Dissimulam, negando a realidade. Não reconhecem nunca que o que está ocorrendo, tão somente, é a busca por esclarecimentos. E a tão esperada cobrança de responsabilidades. Em nada diferem dos demais representantes públicos brasileiros envolvidos em maracutaias. Só abandonarão a soberba na hora de discutir mansamente, com a polícia, uma alternativa de delação premiada. E assim tentarem evitar uma reclusão mais alongada. Assim são nossos políticos. Aqui e acolá.

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